domingo, 29 de maio de 2011

Nouvelle Perspective - Parte 3



Quanto mais meu amor por Juliete crescia, maior era o ódio de minha mãe pelo meu atrevimento. Não havia barreiras que fossem maiores do que meu sentimento por aquela mulher, estava disposto a tudo por ela, aos poucos, me desvinculava de meus laços familiares. Já havia muito tempo que eu devia ter feito algo semelhante, a diferença é que nunca havia encontrado algo na qual valesse a pena me sacrificar. 
É claro, é muito difícil oferecer algo em troca de alguma coisa que é tão incerta quanto a possibilidade de um raio cair em sua cabeça. Porém, estudei matemática na escola, e se mesmo houver apenas uma chance de algo dar certo, vale a pena arriscar. Já parou para pensar nisso? Por acaso já notou o quanto deixa seu pessimismo tomar conta de você? O quanto perde seu tempo com coisas inúteis que só favorecerão você e só a você, sem contar o tempo que perde acreditando que algo não dará certo sem nem ao menos dar o primeiro passo para pôr seu ideal em prática. Fora o tempo em que você pulveriza vagarosamente seus tendões se masturbando por homens ou mulheres que nem sequer cogitam sobre sua existência, e que você mesmo sabe que jamais terá algum deles. Por que você não passa de apenas mais um boneco de madeira podre, que sabe de sua atual condição e não mexe um fio de cabelo para tentar fazer a diferença. Tudo isso, devido ao descarte desta única chance provável que você possuía. Engraçado como as coisas são, não é? Eu costumava ser assim, até me apaixonar.
Desde quando era criança, nunca gostei da rotina real. Mas por comodismo, e uma dose de malícia, pude desfrutar do melhor que esta vida poderia me oferecer. O melhor, sempre. Era isso que sempre me foi dado e que fui ensinado a exigir. Caso contrário, se eu não tivesse a melhor família, na melhor moradia, com as melhores vestimentas, com a melhor aparência, eu jamais teria ido aquele dia ao melhor clube masculino de toda Paris e também não teria conhecido a melhor Courtesan de todas. Mas assim como tudo foi me dado de bom grado, da mesma forma eu estava prestes a perder.
- Você está indo longe demais. - Alertou minha mãe entrando em meu quarto.
- Defina...longe demais. - Respondi encarando-a.
- Vou usar uma linguagem na qual você entenda perfeitamente. A sua aventura com aquela puta miserável, está nos custando muito caro.
- Puta miserável? 
- Acredite Alaster, o que o faz pensar que alguém como ela, o corresponderia se não fosse pelo dinheiro?
- Aventura?
- Meu filho, acorde, ela só é mais uma oportunista de toda essa plebe abaixo de nós.
- Bom, então, a única coisa que a diferencia de você, é uma conta bancária com alguns trocados à mais?
- O que está querendo dizer?
- Ora Desiré, já se esqueceu de seus flertes com o rei inglês? E pelo que me lembro, você não é uma "puro-sangue" como o papai, não é?
- Cuidado com o que anda reparando, meu filho. Acredito que a vida íntima de sua mãe não lhe diz respeito, além do mais, que poder você tem a não ser de causar suspiros por onde passa?
- Está me ameaçando? - Cruzei meus braços.
- Entenda como quiser, apenas, vá se despedindo de sua amiguinha do Le Chat Noir. - Respondeu sorrindo com sinismo em seu olhar.
- Quanto o britânico coroado lhe pagou para você vir dizer tudo isso para mim? Posso cobrir a oferta, não estou nem aí para o incesto, além do mais, você até que não é de se jogar fora. - Sorri ironicamente olhando-a de cima a baixo.
- COMO OUSA! - Desferiu um tapa em meu rosto, mas o interceptei segurando seu pulso e apertando-o.
- Eu já acabei com seu primogênito uma vez, e não vou hesitar em fazer o mesmo com quem atravessar o meu caminho com Juliete. Portanto, apenas aceite que vou me casar com ela e nem mesmo você vai me impedir. - Encerrei soltando violentamente seu braço.
- Vai se arrepender disto amargamente, Alaster. Ou não me chamo Desiré Chevalier. - Ameaçou caindo em minha cama.
- Claro que vou, boa noite. - Ignorei-a a saindo de meu quarto.
- Você se casará com a filha do rei inglês mês que vem, se eu fosse você, economizaria a noite de hoje para comprar um bom presente à sua futura esposa.
- Quem sabe, quando ela aprender que sexo oral não significa falar sobre relações sexuais. Até outra hora.
O atrevimento era grande, mas minha ousadia era maior. Simplesmente suas palavras não entravam mais em minha mente, nada era mais certo do que Juliete e eu.
Deixando tudo para trás mais uma vez, me dirigi ao Le Chat Noir para vê-la. Entrando no local, fui recepcionado por Daphné da mesma maneira como se apresentava com todos os homens que entravam no local. 
- Olá meu Duque, já estava achando que não iria vê-lo hoje. Por um momento, tive a felicidade de acreditar que estaria precisando de companhia. - Disse entregando seu corpo a mim, evidenciando seu generoso decote.
- E foi justamente isso que vim fazer aqui, Daphné. - Respondi afastando-a de mim.
- E lhe garanto que irá encontrar o que procura, mas não com quem está esperando. - Sorriu maliciosamente.
- Do que está falando? - A encarei.
- Vamos dizer que hoje nem todas de nós estão sozinhas. Mas se precisar de algo, como sempre, estou à sua disposição. - Respondeu rindo com uma piscadela indo em direção o bar. O que me intrigava, é que não conseguia ver Juliete dentre todas as outras Courtesans. Eu havia chegado cedo para a apresentação, e não era de seu costume ficar sozinha aquela hora. Encontrei Dom Pietro e busquei seu paradeiro.
- Com licença Dom Pietro, saberia me dizer onde está Juliete?
- Meu Duque...não posso lhe dizer.
- Por que não? -
- Entenda senhor, apenas não posso!
- Dom Pietro, eu preciso vê-la! - Exclamei.
- Sr. Chevalier, queira se acalmar, por favor!
- Olhe, esqueça. Vou procurá-la eu mesmo. 
E assim saí em sua busca. Gritava seu nome por todo o corredor. Por onde passava, várias Courtesans abriam as portas de seus aposentos assustadas e curiosas com o que estava acontecendo, algumas delas estavam praticamente nuas! Continuei assim até chegar ao seu quarto, bati na porta e a abri me deparando com a cena mais assustadora de toda minha vida. Vê-la com outro homem em seu quarto, foi exatamente como ter meu coração arrancado pelo meu melhor amigo. Eu esperava tudo de todos, menos algo assim, partido dela.
Apenas virei-me e fui em direção à saída. Ouvi seus passos rápidos vindos em minha direção e sua aflição ao tentar se explicar. Tudo que consegui fazer foi retirar de meu bolso uma caixa com uma aliança e deixar aos seus pés. Nenhuma palavra ousaria sair de minha boca naquele instante. As Courtesans e Dom Pietro silenciaram todo o corredor enquanto me dirigia para fora dalí. Telefonei para meu palácio onde minha mãe atendera.
- O que quer Alaster? - Perguntou ainda irritada.
- Comece a preparar meu casamento.