sábado, 7 de janeiro de 2012

Nouvelle Perspective - Final


Era Dezembro, estávamos no Solstício de Inverno. Era uma noite gélida, mas a neve teve seu momento de trégua, o que acredito ter feito com que Juliete viesse até minha casa. Sua beleza ainda era estonteante, trajava um dress coat vinho com calças, botas, luvas, uma boina pretas acompanhadas por um cachecol xadrez. Estava com uma maquiagem leve e por um momento não parecia ser aquela mulher cuja deslumbrava os homens apenas com um collant tomara-que-caia, olhos tão reluzentes quanto um par de diamantes e lábios capazes de seduzir até o homem com o mais frio coração. Mas sua beleza não era capaz de se sobressair ao que eu sentia, porém era inegável meu amor por ela.
- É muita ousadia para uma única mulher. - Disse indo em sua direção.
- Alaster, precisamos conversar.
- Quando eu era mais jovem costumava ter medo desta frase. - Encarei-a.
- Você... Está divino, como em todas as outras vezes. - Disse sorrindo aproximando sua mão de meu rosto para acariciá-lo.
- Vá direto ao assunto. - Resmunguei dando um leve tapa em sua mão.
- Achei que ia querer isto de volta. - Retirou do bolso um pouco assustada uma caixinha com o anel que eu havia comprado.
- Mas não quero, tire esse encalço de minha frente e se foi para isso que veio, já pode se retirar.
- Não, não foi para isso que eu vim.
- Engraçado, você não costuma se vestir assim, deve ser por isso que os seguranças a deixaram entrar. Com o calor que emana, acredito que não seja necessário tantos tecidos. E com relação ao anel, era para ser um presente e se não o quiser, venda-o, entregue a uma joalheria, doe a um mendigo, eu sei lá, apenas suma com isso daqui.
- Dá para me escutar! Ou seus caprichos além de o deixarem cego fizeram com que ensurdecesse? - Esbravejou desferindo um tapa em meu rosto.
- Pois bem, diga, sou todo ouvidos. - Olhei em seus olhos.
- Para começar, me desculpe. Me desculpe pelo que viu, pelo que ouviu, por tudo o que aconteceu aquele dia. Não era para nada ter saído daquele jeito.
- Ah, você pretendia transar com aquele cara e comigo também sem que eu ficasse sabendo, muito engenhosa.
- Seria muito bom se parasse de relevar meus erros, eu sei muito bem o que fiz e foi muito difícil vir até aqui. Então escute o que tenho a dizer, por favor.
- Está bem, prossiga.
- Alaster, de todos os homens que já passaram em minha vida, você foi o único que quando virou as costas para mim, olhou para trás para dizer que iria voltar. Fez com que uma gata borralheira como eu me sentisse uma rainha só ao tocar seus lábios com os meus. Acima de tudo, não me deu as noites mais inesquecíveis que pude viver, mas fez de mim uma mulher de verdade e não há dinheiro algum que pague por isso.
- E ainda tem a coragem de vir até a minha casa, dizer coisas tão magníficas e ter feito o que fez...
- EU NUNCA QUIS MAGOÁ-LO! Acha mesmo que eu iria querer fazer algum mal ao homem que trouxe a maior felicidade que uma mulher pode querer. - Gritou segurando meu rosto e me encarando com lágrimas nos olhos.
- Nunca quis, mas o fez. Não houve uma única noite onde eu era assediado descaradamente aos seus olhos por suas "colegas de trabalho" e jamais me rendi ao encanto de alguma. Portanto, acho que mereço uma explicação mais convincente sobre o que a fez me trair dessa maneira.
- Eu... Queria poder explicar, é o que mais quero. Mas não posso, por mais que eu tente, só o deixaria mais confuso e seu ódio por mim aumentaria ainda mais. O que eu peço, é que não me entenda, mas me perdoe. Eu imagino o quanto deve estar doendo, em mim também está.
- Não, você não imagina o quanto dói.
- E o que faz ter tanta certeza? - Questionou segurando meu queixo com uma das mãos, mantendo fixamente seus olhos nos meus.
- Porque você não sabe o que diz, seu olhar já não é o mesmo de antes, o timbre da sua voz já não ecoa como a meses atrás. Algo mudou em você.
- Você fala como se soubesse exatamente o que se passa comigo. Quando na verdade é só um mimadinho entediado que resolveu se aventurar em um bordel parisiense. - E uma lágrima tornou a rolar.
- Me ofenda o quanto quiser, só confirma aquilo que eu disse a você em nosso primeiro encontro. Acha mesmo justo, ter visto tudo o que fiz durante tanto tempo e tentar se justificar desse jeito? Eu amo você, mas Juliete, não posso viver uma mentira.
- Mentira é o que você está fazendo consigo mesmo Alaster, estou aqui, bem na sua frente e tudo que consegue fazer é deixar seu orgulho impedir de fazer aquilo que mais quer.
- E o que eu quero então? - Não foi preciso perguntar duas vezes, quando dei por mim, ela já estava em meus braços me beijando como se fosse a última vez que a veria, mas ela estava certa, não fiz nada além de me entregar ao que meus sentimentos me ordenavam.
- Volte para mim. - Sussurrou em meu ouvido.
- Um dia, não agora. Mas use este anel e não o tire. - Respondi em mesmo tom.
- Por que?
- Porque ele é minha garantia que estarei de volta.
- Então, acho melhor eu ir. - Disse afastando-se lentamente de mim.
- É, concordo. 
- Rumores na cidade dizem que irá se casar com a princesa britânica.
- Sim, eu vou.
- É isso que realmente quer?
- Não.
- Pois bem, quero pedir algo.
- Pode pedir.
- Quero ir ao seu casamento.
- Ninguém irá impedi-la, eu garanto.
- Até lá então. - Despediu-se saindo do hall. Foi algo surreal, porém, já não havia mais dúvida alguma, Sebastian me orientou sabiamente, mas nem mesmo ele podia compreender o que se passava aqui dentro. Um jogo de interesses jamais terminaria bem, entretanto, o fim sempre é a miséria. O que não quer dizer que será um miserável.
Passado um mês desde então, o dia do casamento chegara. Em meio a toda festa, percebi sempre sua presença, longe de mim é claro. Mas entre as sombras e convidados, nossos olhares sempre se cruzavam e por um momento, a sensação era de uma guerra perdida, mas era apenas uma leviana sensação. Pois eu tinha outros planos. Entre o mesmo período, Dom Pietro falecera e Juliete assumiu o Le Chat Noir, o que não fez muita diferença, entre tantas reviravoltas tudo pareceu estar exatamente como estava.

"(...) O costumeiro quarto estava escuro. Um cigarro aceso descansava no cinzeiro e Alaster me aguardava sentado na cama. Suas feições haviam mudado um pouco, mas o tempo não conseguiu devorar a tamanha beleza do seu rosto.
- Madame Fournier – Alaster Chevalier ergueu-se e me ofereceu uma reverência.
- Alaster, você não precisa me tratar com tamanha cordialidade – sorri e notei o sorriso de canto que ele esboçava. – sou dona do Le Chat Noir, porém continuo sendo sua Juliete.
Ele me lançou um olhar derrotado e despiu o paletó enquanto eu deitava na cama e o aguardava calmamente. Foram tantos momentos esplêndidos que tive ao lado daquele homem que eu era incapaz de negar o quanto o amava. O quanto necessitava dele.
Confesso o quão duro foi vê-lo naquela cerimônia de casamento e permanecer no mais profundo silêncio. Apesar dos fatos, nada pareceu ter mudado tanto. Alaster continuava freqüentando o Le Chat Noir todas as noites, não se incomodava com os costumeiros comentários da alta sociedade. As vezes até parecia gostar da ideia.
Alaster me resgatou das lembranças que me possuíam e beijou-me os lábios. As mãos hábeis continuavam as mesmas, incendiavam minha pele com o mais simplório toque. Sem cerimônias, seu corpo se depositou sobre o meu e seu próximo ato foi me deixar sem nenhuma vestimenta.
A cada noite que passávamos juntos, eu lembrava que ele não era inteiramente meu. Pelo menos, Alaster não era meu perante toda a sociedade francesa. Porém, a sociedade francesa não era apta a compreender que não são simples votos ou falsos juramentos que fazem alguém pertencer a outro. Não, o amor vai além disso. Alaster poderia estar casado com outra, mas no fundo eu sabia que ele era meu porque seu coração me pertencia. E, bom, a reles jovem burguesa que se tornou prostituta e que agora dominava o império do Le Chat Noir. Eu, Juliete, Madame Fournier... pertencia inteiramente a ele. Só isso e mais nada."

Pois é Mes Amis, esta história foi inspirada no romance Moulin Rouge e acima de tudo fala sobre amor. Por um momento, ele irá acabar com você, mas sempre o preencherá de vida. É algo doloroso, mas acredite, dê uma chance. Não há o que temer, pois ele é real o fará crescer, mas não tenha pressa, uma hora irá encontrá-lo. Ele mete os pés pelas mãos de vez em quando também, e quando isso acontecer, não se desespere: apenas respire fundo e guarde somente aquilo que lhe fez realmente feliz. A melhor parte em amar, não é poder perdoar, mas ter a bênção de sempre poder recomeçar.

A última parte deste texto é de autoria da também blogueira Bruna Aureliano, dona do blog Armas Radioativas. Pois se não fosse por seu passo inicial, esta história não teria existido.

Au Revoir!


Nouvelle Perspective - Parte 4


Logo ao chegar em casa ignorei a presença de todos no hall e fui diretamente ao meu quarto. Tirando e o arremessando ao chão meu paletó, arregacei as mangas de minha camisa azul marinho, a desabotoei um pouco mais e peguei em minha bancada uma garrafa de vodca que costumava tomar. Quando menos percebi ela já havia chegado ao seu fim, mas ainda precisava de algo mais. Vasculhei mais um pouco entre coisas aleatórias e encontrei uma garrafa de uísque na qual havia guardado especialmente para situações como a que eu me encontrava. E os goles se repetiram e se foram da mesma maneira como a garrafa anterior, porém parecia pouco, muito pouco perto da ânsia que tomara conta de mim, uma ânsia de um desejo destrutivo, mortal onde por mais que eu pudesse beber, não iria passar. E tudo que eu conseguiria seria apenas um belo rombo em meu fígado causado à longo prazo por uma cirrose digna de um vagabundo desolado, tendo como principal causa uma vadia de olhar estonteante e corpo escultural, mas ainda sim não deixava de ser uma vadia.
- 2 litros? 4? O que me importa, sempre fui uma merda com números mesmo. - Disse deitando em minha cama olhando para as duas garrafas já altamente embriagado e apagando sem me dar conta do que eu havia feito e dito e muito menos com qualquer noção cronológica. No dia seguinte, fui acordado com a luz solar incidida pela janela ao lado de minha cama com as cortinas escancaradas. Atendendo às necessidades do meu corpo, me levantei com muita dificuldade derrubando uma das garrafas no chão e me arrastei ao banheiro do meu quarto, não me atrevendo ao menor contato visual com o espelho, apenas uma lavagem rápida no meu rosto com água da torneira e uma fracassada tentativa de vomitar. Tirei o resto das minhas roupas e voltei a dormir mais um pouco porém acordado num breve momento póstumo por uma voz muito familiar.
- Já estive em muitos bordéis antes, mas os homens não costumam sair desse jeito. - disse Sebastian, vizinho de minha mansão e meu melhor amigo, encostado em minha porta.
- Suma daqui. - disse ainda entorpecido.
- Seu quarto está fedendo a orgasmos de courtesans e uma combinação muito mal sucedida de urina de criança. - Respondeu colocando seu chapéu no topo de um cabide vertical e se aproximando de mim.
- Há 10 anos eu soube que você era impertinente, mas só agora descobri que é surdo também. - Respondi me sentando na borda de minha cama e massageando minha cabeça.
- Isso meu caro, é culpa sua, nada teria acontecido se tivesse escutado sua mãe e... Cacete Alaster, que fedor é esse, você engoliu um urubu ontem?! - Disse tapando seu nariz e abanando o ar com a outra mão.
- Você está do lado de quem? Fala como se não conhecesse minha mãe! - O encarei.
- Mas uma prostituta, Alaster?!
- E o que são as mulheres da realeza?! Estou a ponto de completar a lista de reis que ainda restam para minha mãe transar em plena cerimônia, não seja hipócrita Sebastian! - Bravejei me levantando e olhando em seus olhos azuis.
- O que eu estou querendo dizer é que o problema não é você ter se apaixonado, irmão. Mas sim, não saber o que realmente é, somos boêmios, acreditamos em tal sentimento. Mas não podemos nos dar ao luxo de se entregar a uma mulher cuja faz disso um instrumento de comércio. 
- O que quer dizer, durante 8 meses vivi uma ilusão?
- Pense o que quiser meu amigo, ontem pude ver como chegou em casa e vim saber se estava bem.
- Obrigado, mais uma vez, irmão. - Sorri amareladamente.
- Por nada - respondeu sorrindo e abraçando-me - Mas por favor, se puder botar uma calça, pelo menos, eu agradeceria. - Afastou-se de mim com uma expressão de desgosto.
- Vá à merda.
- É, boa ideia, vou indo pra cidade, quero dar um passeio ao ar livre. E Alaster, soube que irá se casar com a  cadelinha britânica. - Afirmou apanhando seu chapéu e se aproximando da porta.
- Sim, eu vou.
- Um conselho não de um irmão de coração, mas de um amigo: não faça isso. Cuide-se, até a vista. - Saindo e encerrando nossa conversa, fiquei refletindo sobre o que Sebastian havia me dito e no fundo, ele estava coberto de razão.
Mais tarde, quando minha família havia saído para jantar fora, fui para a sala de estar ouvir um pouco de música e ler um jornal com a porta entreaberta, notei que havia alguém no hall. Sem que pudesse ser notado, olhei pela fresta para ver se poderia ser algum ladrão ou invasor, mas quando dei por mim não acreditei no que estava acontecendo. Saí lentamente e fui ao seu encontro, não podendo crer sobre seu atrevimento, digno de uma prostituta.
- É muita ousadia para uma única mulher. - Disse indo em sua direção.
- Alaster, precisamos conversar. - Respondeu Juliete.