sábado, 7 de janeiro de 2012

Nouvelle Perspective - Final


Era Dezembro, estávamos no Solstício de Inverno. Era uma noite gélida, mas a neve teve seu momento de trégua, o que acredito ter feito com que Juliete viesse até minha casa. Sua beleza ainda era estonteante, trajava um dress coat vinho com calças, botas, luvas, uma boina pretas acompanhadas por um cachecol xadrez. Estava com uma maquiagem leve e por um momento não parecia ser aquela mulher cuja deslumbrava os homens apenas com um collant tomara-que-caia, olhos tão reluzentes quanto um par de diamantes e lábios capazes de seduzir até o homem com o mais frio coração. Mas sua beleza não era capaz de se sobressair ao que eu sentia, porém era inegável meu amor por ela.
- É muita ousadia para uma única mulher. - Disse indo em sua direção.
- Alaster, precisamos conversar.
- Quando eu era mais jovem costumava ter medo desta frase. - Encarei-a.
- Você... Está divino, como em todas as outras vezes. - Disse sorrindo aproximando sua mão de meu rosto para acariciá-lo.
- Vá direto ao assunto. - Resmunguei dando um leve tapa em sua mão.
- Achei que ia querer isto de volta. - Retirou do bolso um pouco assustada uma caixinha com o anel que eu havia comprado.
- Mas não quero, tire esse encalço de minha frente e se foi para isso que veio, já pode se retirar.
- Não, não foi para isso que eu vim.
- Engraçado, você não costuma se vestir assim, deve ser por isso que os seguranças a deixaram entrar. Com o calor que emana, acredito que não seja necessário tantos tecidos. E com relação ao anel, era para ser um presente e se não o quiser, venda-o, entregue a uma joalheria, doe a um mendigo, eu sei lá, apenas suma com isso daqui.
- Dá para me escutar! Ou seus caprichos além de o deixarem cego fizeram com que ensurdecesse? - Esbravejou desferindo um tapa em meu rosto.
- Pois bem, diga, sou todo ouvidos. - Olhei em seus olhos.
- Para começar, me desculpe. Me desculpe pelo que viu, pelo que ouviu, por tudo o que aconteceu aquele dia. Não era para nada ter saído daquele jeito.
- Ah, você pretendia transar com aquele cara e comigo também sem que eu ficasse sabendo, muito engenhosa.
- Seria muito bom se parasse de relevar meus erros, eu sei muito bem o que fiz e foi muito difícil vir até aqui. Então escute o que tenho a dizer, por favor.
- Está bem, prossiga.
- Alaster, de todos os homens que já passaram em minha vida, você foi o único que quando virou as costas para mim, olhou para trás para dizer que iria voltar. Fez com que uma gata borralheira como eu me sentisse uma rainha só ao tocar seus lábios com os meus. Acima de tudo, não me deu as noites mais inesquecíveis que pude viver, mas fez de mim uma mulher de verdade e não há dinheiro algum que pague por isso.
- E ainda tem a coragem de vir até a minha casa, dizer coisas tão magníficas e ter feito o que fez...
- EU NUNCA QUIS MAGOÁ-LO! Acha mesmo que eu iria querer fazer algum mal ao homem que trouxe a maior felicidade que uma mulher pode querer. - Gritou segurando meu rosto e me encarando com lágrimas nos olhos.
- Nunca quis, mas o fez. Não houve uma única noite onde eu era assediado descaradamente aos seus olhos por suas "colegas de trabalho" e jamais me rendi ao encanto de alguma. Portanto, acho que mereço uma explicação mais convincente sobre o que a fez me trair dessa maneira.
- Eu... Queria poder explicar, é o que mais quero. Mas não posso, por mais que eu tente, só o deixaria mais confuso e seu ódio por mim aumentaria ainda mais. O que eu peço, é que não me entenda, mas me perdoe. Eu imagino o quanto deve estar doendo, em mim também está.
- Não, você não imagina o quanto dói.
- E o que faz ter tanta certeza? - Questionou segurando meu queixo com uma das mãos, mantendo fixamente seus olhos nos meus.
- Porque você não sabe o que diz, seu olhar já não é o mesmo de antes, o timbre da sua voz já não ecoa como a meses atrás. Algo mudou em você.
- Você fala como se soubesse exatamente o que se passa comigo. Quando na verdade é só um mimadinho entediado que resolveu se aventurar em um bordel parisiense. - E uma lágrima tornou a rolar.
- Me ofenda o quanto quiser, só confirma aquilo que eu disse a você em nosso primeiro encontro. Acha mesmo justo, ter visto tudo o que fiz durante tanto tempo e tentar se justificar desse jeito? Eu amo você, mas Juliete, não posso viver uma mentira.
- Mentira é o que você está fazendo consigo mesmo Alaster, estou aqui, bem na sua frente e tudo que consegue fazer é deixar seu orgulho impedir de fazer aquilo que mais quer.
- E o que eu quero então? - Não foi preciso perguntar duas vezes, quando dei por mim, ela já estava em meus braços me beijando como se fosse a última vez que a veria, mas ela estava certa, não fiz nada além de me entregar ao que meus sentimentos me ordenavam.
- Volte para mim. - Sussurrou em meu ouvido.
- Um dia, não agora. Mas use este anel e não o tire. - Respondi em mesmo tom.
- Por que?
- Porque ele é minha garantia que estarei de volta.
- Então, acho melhor eu ir. - Disse afastando-se lentamente de mim.
- É, concordo. 
- Rumores na cidade dizem que irá se casar com a princesa britânica.
- Sim, eu vou.
- É isso que realmente quer?
- Não.
- Pois bem, quero pedir algo.
- Pode pedir.
- Quero ir ao seu casamento.
- Ninguém irá impedi-la, eu garanto.
- Até lá então. - Despediu-se saindo do hall. Foi algo surreal, porém, já não havia mais dúvida alguma, Sebastian me orientou sabiamente, mas nem mesmo ele podia compreender o que se passava aqui dentro. Um jogo de interesses jamais terminaria bem, entretanto, o fim sempre é a miséria. O que não quer dizer que será um miserável.
Passado um mês desde então, o dia do casamento chegara. Em meio a toda festa, percebi sempre sua presença, longe de mim é claro. Mas entre as sombras e convidados, nossos olhares sempre se cruzavam e por um momento, a sensação era de uma guerra perdida, mas era apenas uma leviana sensação. Pois eu tinha outros planos. Entre o mesmo período, Dom Pietro falecera e Juliete assumiu o Le Chat Noir, o que não fez muita diferença, entre tantas reviravoltas tudo pareceu estar exatamente como estava.

"(...) O costumeiro quarto estava escuro. Um cigarro aceso descansava no cinzeiro e Alaster me aguardava sentado na cama. Suas feições haviam mudado um pouco, mas o tempo não conseguiu devorar a tamanha beleza do seu rosto.
- Madame Fournier – Alaster Chevalier ergueu-se e me ofereceu uma reverência.
- Alaster, você não precisa me tratar com tamanha cordialidade – sorri e notei o sorriso de canto que ele esboçava. – sou dona do Le Chat Noir, porém continuo sendo sua Juliete.
Ele me lançou um olhar derrotado e despiu o paletó enquanto eu deitava na cama e o aguardava calmamente. Foram tantos momentos esplêndidos que tive ao lado daquele homem que eu era incapaz de negar o quanto o amava. O quanto necessitava dele.
Confesso o quão duro foi vê-lo naquela cerimônia de casamento e permanecer no mais profundo silêncio. Apesar dos fatos, nada pareceu ter mudado tanto. Alaster continuava freqüentando o Le Chat Noir todas as noites, não se incomodava com os costumeiros comentários da alta sociedade. As vezes até parecia gostar da ideia.
Alaster me resgatou das lembranças que me possuíam e beijou-me os lábios. As mãos hábeis continuavam as mesmas, incendiavam minha pele com o mais simplório toque. Sem cerimônias, seu corpo se depositou sobre o meu e seu próximo ato foi me deixar sem nenhuma vestimenta.
A cada noite que passávamos juntos, eu lembrava que ele não era inteiramente meu. Pelo menos, Alaster não era meu perante toda a sociedade francesa. Porém, a sociedade francesa não era apta a compreender que não são simples votos ou falsos juramentos que fazem alguém pertencer a outro. Não, o amor vai além disso. Alaster poderia estar casado com outra, mas no fundo eu sabia que ele era meu porque seu coração me pertencia. E, bom, a reles jovem burguesa que se tornou prostituta e que agora dominava o império do Le Chat Noir. Eu, Juliete, Madame Fournier... pertencia inteiramente a ele. Só isso e mais nada."

Pois é Mes Amis, esta história foi inspirada no romance Moulin Rouge e acima de tudo fala sobre amor. Por um momento, ele irá acabar com você, mas sempre o preencherá de vida. É algo doloroso, mas acredite, dê uma chance. Não há o que temer, pois ele é real o fará crescer, mas não tenha pressa, uma hora irá encontrá-lo. Ele mete os pés pelas mãos de vez em quando também, e quando isso acontecer, não se desespere: apenas respire fundo e guarde somente aquilo que lhe fez realmente feliz. A melhor parte em amar, não é poder perdoar, mas ter a bênção de sempre poder recomeçar.

A última parte deste texto é de autoria da também blogueira Bruna Aureliano, dona do blog Armas Radioativas. Pois se não fosse por seu passo inicial, esta história não teria existido.

Au Revoir!


Nouvelle Perspective - Parte 4


Logo ao chegar em casa ignorei a presença de todos no hall e fui diretamente ao meu quarto. Tirando e o arremessando ao chão meu paletó, arregacei as mangas de minha camisa azul marinho, a desabotoei um pouco mais e peguei em minha bancada uma garrafa de vodca que costumava tomar. Quando menos percebi ela já havia chegado ao seu fim, mas ainda precisava de algo mais. Vasculhei mais um pouco entre coisas aleatórias e encontrei uma garrafa de uísque na qual havia guardado especialmente para situações como a que eu me encontrava. E os goles se repetiram e se foram da mesma maneira como a garrafa anterior, porém parecia pouco, muito pouco perto da ânsia que tomara conta de mim, uma ânsia de um desejo destrutivo, mortal onde por mais que eu pudesse beber, não iria passar. E tudo que eu conseguiria seria apenas um belo rombo em meu fígado causado à longo prazo por uma cirrose digna de um vagabundo desolado, tendo como principal causa uma vadia de olhar estonteante e corpo escultural, mas ainda sim não deixava de ser uma vadia.
- 2 litros? 4? O que me importa, sempre fui uma merda com números mesmo. - Disse deitando em minha cama olhando para as duas garrafas já altamente embriagado e apagando sem me dar conta do que eu havia feito e dito e muito menos com qualquer noção cronológica. No dia seguinte, fui acordado com a luz solar incidida pela janela ao lado de minha cama com as cortinas escancaradas. Atendendo às necessidades do meu corpo, me levantei com muita dificuldade derrubando uma das garrafas no chão e me arrastei ao banheiro do meu quarto, não me atrevendo ao menor contato visual com o espelho, apenas uma lavagem rápida no meu rosto com água da torneira e uma fracassada tentativa de vomitar. Tirei o resto das minhas roupas e voltei a dormir mais um pouco porém acordado num breve momento póstumo por uma voz muito familiar.
- Já estive em muitos bordéis antes, mas os homens não costumam sair desse jeito. - disse Sebastian, vizinho de minha mansão e meu melhor amigo, encostado em minha porta.
- Suma daqui. - disse ainda entorpecido.
- Seu quarto está fedendo a orgasmos de courtesans e uma combinação muito mal sucedida de urina de criança. - Respondeu colocando seu chapéu no topo de um cabide vertical e se aproximando de mim.
- Há 10 anos eu soube que você era impertinente, mas só agora descobri que é surdo também. - Respondi me sentando na borda de minha cama e massageando minha cabeça.
- Isso meu caro, é culpa sua, nada teria acontecido se tivesse escutado sua mãe e... Cacete Alaster, que fedor é esse, você engoliu um urubu ontem?! - Disse tapando seu nariz e abanando o ar com a outra mão.
- Você está do lado de quem? Fala como se não conhecesse minha mãe! - O encarei.
- Mas uma prostituta, Alaster?!
- E o que são as mulheres da realeza?! Estou a ponto de completar a lista de reis que ainda restam para minha mãe transar em plena cerimônia, não seja hipócrita Sebastian! - Bravejei me levantando e olhando em seus olhos azuis.
- O que eu estou querendo dizer é que o problema não é você ter se apaixonado, irmão. Mas sim, não saber o que realmente é, somos boêmios, acreditamos em tal sentimento. Mas não podemos nos dar ao luxo de se entregar a uma mulher cuja faz disso um instrumento de comércio. 
- O que quer dizer, durante 8 meses vivi uma ilusão?
- Pense o que quiser meu amigo, ontem pude ver como chegou em casa e vim saber se estava bem.
- Obrigado, mais uma vez, irmão. - Sorri amareladamente.
- Por nada - respondeu sorrindo e abraçando-me - Mas por favor, se puder botar uma calça, pelo menos, eu agradeceria. - Afastou-se de mim com uma expressão de desgosto.
- Vá à merda.
- É, boa ideia, vou indo pra cidade, quero dar um passeio ao ar livre. E Alaster, soube que irá se casar com a  cadelinha britânica. - Afirmou apanhando seu chapéu e se aproximando da porta.
- Sim, eu vou.
- Um conselho não de um irmão de coração, mas de um amigo: não faça isso. Cuide-se, até a vista. - Saindo e encerrando nossa conversa, fiquei refletindo sobre o que Sebastian havia me dito e no fundo, ele estava coberto de razão.
Mais tarde, quando minha família havia saído para jantar fora, fui para a sala de estar ouvir um pouco de música e ler um jornal com a porta entreaberta, notei que havia alguém no hall. Sem que pudesse ser notado, olhei pela fresta para ver se poderia ser algum ladrão ou invasor, mas quando dei por mim não acreditei no que estava acontecendo. Saí lentamente e fui ao seu encontro, não podendo crer sobre seu atrevimento, digno de uma prostituta.
- É muita ousadia para uma única mulher. - Disse indo em sua direção.
- Alaster, precisamos conversar. - Respondeu Juliete.

domingo, 29 de maio de 2011

Nouvelle Perspective - Parte 3



Quanto mais meu amor por Juliete crescia, maior era o ódio de minha mãe pelo meu atrevimento. Não havia barreiras que fossem maiores do que meu sentimento por aquela mulher, estava disposto a tudo por ela, aos poucos, me desvinculava de meus laços familiares. Já havia muito tempo que eu devia ter feito algo semelhante, a diferença é que nunca havia encontrado algo na qual valesse a pena me sacrificar. 
É claro, é muito difícil oferecer algo em troca de alguma coisa que é tão incerta quanto a possibilidade de um raio cair em sua cabeça. Porém, estudei matemática na escola, e se mesmo houver apenas uma chance de algo dar certo, vale a pena arriscar. Já parou para pensar nisso? Por acaso já notou o quanto deixa seu pessimismo tomar conta de você? O quanto perde seu tempo com coisas inúteis que só favorecerão você e só a você, sem contar o tempo que perde acreditando que algo não dará certo sem nem ao menos dar o primeiro passo para pôr seu ideal em prática. Fora o tempo em que você pulveriza vagarosamente seus tendões se masturbando por homens ou mulheres que nem sequer cogitam sobre sua existência, e que você mesmo sabe que jamais terá algum deles. Por que você não passa de apenas mais um boneco de madeira podre, que sabe de sua atual condição e não mexe um fio de cabelo para tentar fazer a diferença. Tudo isso, devido ao descarte desta única chance provável que você possuía. Engraçado como as coisas são, não é? Eu costumava ser assim, até me apaixonar.
Desde quando era criança, nunca gostei da rotina real. Mas por comodismo, e uma dose de malícia, pude desfrutar do melhor que esta vida poderia me oferecer. O melhor, sempre. Era isso que sempre me foi dado e que fui ensinado a exigir. Caso contrário, se eu não tivesse a melhor família, na melhor moradia, com as melhores vestimentas, com a melhor aparência, eu jamais teria ido aquele dia ao melhor clube masculino de toda Paris e também não teria conhecido a melhor Courtesan de todas. Mas assim como tudo foi me dado de bom grado, da mesma forma eu estava prestes a perder.
- Você está indo longe demais. - Alertou minha mãe entrando em meu quarto.
- Defina...longe demais. - Respondi encarando-a.
- Vou usar uma linguagem na qual você entenda perfeitamente. A sua aventura com aquela puta miserável, está nos custando muito caro.
- Puta miserável? 
- Acredite Alaster, o que o faz pensar que alguém como ela, o corresponderia se não fosse pelo dinheiro?
- Aventura?
- Meu filho, acorde, ela só é mais uma oportunista de toda essa plebe abaixo de nós.
- Bom, então, a única coisa que a diferencia de você, é uma conta bancária com alguns trocados à mais?
- O que está querendo dizer?
- Ora Desiré, já se esqueceu de seus flertes com o rei inglês? E pelo que me lembro, você não é uma "puro-sangue" como o papai, não é?
- Cuidado com o que anda reparando, meu filho. Acredito que a vida íntima de sua mãe não lhe diz respeito, além do mais, que poder você tem a não ser de causar suspiros por onde passa?
- Está me ameaçando? - Cruzei meus braços.
- Entenda como quiser, apenas, vá se despedindo de sua amiguinha do Le Chat Noir. - Respondeu sorrindo com sinismo em seu olhar.
- Quanto o britânico coroado lhe pagou para você vir dizer tudo isso para mim? Posso cobrir a oferta, não estou nem aí para o incesto, além do mais, você até que não é de se jogar fora. - Sorri ironicamente olhando-a de cima a baixo.
- COMO OUSA! - Desferiu um tapa em meu rosto, mas o interceptei segurando seu pulso e apertando-o.
- Eu já acabei com seu primogênito uma vez, e não vou hesitar em fazer o mesmo com quem atravessar o meu caminho com Juliete. Portanto, apenas aceite que vou me casar com ela e nem mesmo você vai me impedir. - Encerrei soltando violentamente seu braço.
- Vai se arrepender disto amargamente, Alaster. Ou não me chamo Desiré Chevalier. - Ameaçou caindo em minha cama.
- Claro que vou, boa noite. - Ignorei-a a saindo de meu quarto.
- Você se casará com a filha do rei inglês mês que vem, se eu fosse você, economizaria a noite de hoje para comprar um bom presente à sua futura esposa.
- Quem sabe, quando ela aprender que sexo oral não significa falar sobre relações sexuais. Até outra hora.
O atrevimento era grande, mas minha ousadia era maior. Simplesmente suas palavras não entravam mais em minha mente, nada era mais certo do que Juliete e eu.
Deixando tudo para trás mais uma vez, me dirigi ao Le Chat Noir para vê-la. Entrando no local, fui recepcionado por Daphné da mesma maneira como se apresentava com todos os homens que entravam no local. 
- Olá meu Duque, já estava achando que não iria vê-lo hoje. Por um momento, tive a felicidade de acreditar que estaria precisando de companhia. - Disse entregando seu corpo a mim, evidenciando seu generoso decote.
- E foi justamente isso que vim fazer aqui, Daphné. - Respondi afastando-a de mim.
- E lhe garanto que irá encontrar o que procura, mas não com quem está esperando. - Sorriu maliciosamente.
- Do que está falando? - A encarei.
- Vamos dizer que hoje nem todas de nós estão sozinhas. Mas se precisar de algo, como sempre, estou à sua disposição. - Respondeu rindo com uma piscadela indo em direção o bar. O que me intrigava, é que não conseguia ver Juliete dentre todas as outras Courtesans. Eu havia chegado cedo para a apresentação, e não era de seu costume ficar sozinha aquela hora. Encontrei Dom Pietro e busquei seu paradeiro.
- Com licença Dom Pietro, saberia me dizer onde está Juliete?
- Meu Duque...não posso lhe dizer.
- Por que não? -
- Entenda senhor, apenas não posso!
- Dom Pietro, eu preciso vê-la! - Exclamei.
- Sr. Chevalier, queira se acalmar, por favor!
- Olhe, esqueça. Vou procurá-la eu mesmo. 
E assim saí em sua busca. Gritava seu nome por todo o corredor. Por onde passava, várias Courtesans abriam as portas de seus aposentos assustadas e curiosas com o que estava acontecendo, algumas delas estavam praticamente nuas! Continuei assim até chegar ao seu quarto, bati na porta e a abri me deparando com a cena mais assustadora de toda minha vida. Vê-la com outro homem em seu quarto, foi exatamente como ter meu coração arrancado pelo meu melhor amigo. Eu esperava tudo de todos, menos algo assim, partido dela.
Apenas virei-me e fui em direção à saída. Ouvi seus passos rápidos vindos em minha direção e sua aflição ao tentar se explicar. Tudo que consegui fazer foi retirar de meu bolso uma caixa com uma aliança e deixar aos seus pés. Nenhuma palavra ousaria sair de minha boca naquele instante. As Courtesans e Dom Pietro silenciaram todo o corredor enquanto me dirigia para fora dalí. Telefonei para meu palácio onde minha mãe atendera.
- O que quer Alaster? - Perguntou ainda irritada.
- Comece a preparar meu casamento.

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Nouvelle Perspective - Parte 2

Se passaram cinco dias desde meu encontro com Juliete. Não demorou muito para esses cinco dias se tornarem dois meses passados e o tempo não parava de girar.E em todas as noites lá estava eu presente em seu quarto após cada apresentação sua, era inexplicável o quanto me encantei por aquela mulher, assim como era inaceitável para minha família tudo que eu estava fazendo. Mas eu não precisava de qualquer consentimento ou bênção, meu espaço na elite francesa não fazia a menor diferença para mim, bem como um lugar a menos na mesa de jantar não seria notado.
A preocupação não era com quem eu me envolvia e sim quem se envolvia comigo. A imagem que minha família possuía em toda França perante o resto da Europa chegava a ser maior do que qualquer laço familiar, estava acima até mesmo de qualquer autoridade, até mesmo de nós. Entretanto, como já disse, para mim isso não tem valor algum, tudo que eu podia ver, aliás, o que eu queria ver era aquela courtesan ser minha a cada dia que passasse. Estava saindo do meu quarto aquele dia quando passei pelo quarto de meus pais com a porta semi aberta quando notei que falavam sobre ela. Me encostei na parede e claro, não pude deixar de ouvir.
- Este relacionamento de Alaster pode se tornar um problema. - Alertou meu pai.
- Já é um problema! Você sabe muito bem o que pode acontecer se isto chegar à Corte Françesa, Aldebaran. - Bravejou minha mãe.
- O que pode não, o que irá acontecer. Se a Corte souber que nos misturamos com plebeus, aliás, pior do que isso, com uma courtesan, não teremos mais nossa posição. Fora a imagem que todo o país terá perante ao resto da Europa. Agora eu lhe pergunto, o que faremos Desiré? - Indagou meu pai.
- E pergunta a mim?! Você é o homem desta família e o pai dele! Fale com ele, apresente-o a novas mulheres eu não sei, mas não irei admitir uma prostituta em meio a nós, NUNCA! - Exclamou minha mãe.
- Primeiro, acalme-se. O filho também é seu Desiré e eu não vou tomar parte disto sozinho, a responsável por não tê-lo impedido de sair aquele dia foi você! - Acusou-a.
- Agora a culpa é minha? Você nunca foi firme com ele, sempre o tratou como o bonequinho frágil da família. Agora estamos pagando um alto preço por tal erro, que você cometeu! Aquele pirralho mal agradecido, sempre teve tudo que quis sem precisar ao menos pedir. Não vale sequer meio quilate do berço de ouro que recebeu quando nasceu. - Retrucou de volta.
- Chega! Isto não nos levará a lugar algum, estive pensando e me lembrei de algo. - Pensou.
- O que? - Indagou minha mãe.
- A Princesa Inglesa também estava presente na festa que demos há dois meses e ela também está solteira não é? - Lembrou meu pai.
- Sim. - Disse minha mãe pensativa.
- Pronto! Já tenho a solução, vamos fazer com que Alaster se case com ela. Nem mesmo a rebeldia de Alaster pode desafiar isso.
- É por isto que me casei com você Aldebaran, você é um gênio! - Disse minha mãe com um enorme sorriso em seu rosto. Já eu quando ouvi aquilo, minha única vontade foi de degolar os dois e dar seus restos mortais para os cães de guarda de minha mansão, nem que eu tivevesse que ser deserdado, nem que eu tivesse de mudar meu nome, eu não me casaria com uma porca inglesa, isso jamais.
A raiva tomou conta de mim por completo, mas a pouca razão que havia me restado me dizia para sair dali naquele exato momento e ir para o Le Chat Noir. Sem qualquer dúvida foi exatamente o que fiz, corri para o Hall principal onde estava Argost perambulando sem direção, como se me esperasse.
- Olha só quem apareceu, o cãozinho da prostituta! - Provocou colocando-se sobre meu caminho
- Saia da minha frente agora. - Ordenei.
- Está com pressa? Nem ao menos conversamos sobre sua namorada irmãozinho, soube que ela mora naquele famoso clube na cidade, Le Chat Noir, é isso não é? - Continuou provocando.
- Saia da minha frente agora. - Ordenei mais uma vez.
- Sabia que eu fui até lá um dia e a vi, a que chamam de Juliete não é? Realmente ela é muito bonita, você tem muito bom gosto irmão! - Continuou piorando suas palavras.
- Saia-da-minha-frente-agora! - Ordenei pela última vez.
- Sabia também que sua fama é de ser a melhor prostituta de toda a França? Eu pude confirmar isso pessoalmente! - No segundo seguinte após Argost ter terminado de falar um enorme e súbito surto de raiva tomou conta de mim que me fez pegá-lo pelo seu pescoço e investi seu corpo com toda minha força sobre o grande espelho do Hall Principal entorpecendo-o.
- Suas palavras são tão covardes quanto você! Só não o mato agora porque você não vale mais do que os vermes que vão se alimentar desse seu maldito corpo Argost e por mais que me desse muito prazer em fazê-lo, não vou carregar este peso para sempre. Mas que fique avisado: se chegar perto dela denovo, EU ACABO COM VOCÊ! - Gritei segurando-o pela gola de sua camisa e soltando-o no chão tomando meu caminho de volta para fora da mansão.
- Você... Você não sabe a loucura que está cometendo Alaster, ela não ama você, ela não passa de uma courtesan, uma medíocre oportunista que encontrou um ridículo pagante. Vocês se merecem! - Exclamou Argost com dificuldade.
- No dia em que você souber o significado de uma palavra chamada amor Argost, você vai se alimentar de cada letra que está dizendo agora. - Disse saindo da mansão e me dirigindo à cidade. Mal podia acreditar em tudo que aquele desgraçado havia me dito, mas tudo só me provou uma coisa: o quanto eu a amava. No caminho do Le Chat Noir havia uma joalheria, onde vi uma linda pulseira de safiras que fiz questão de comprar para Juliete. Até hoje não sei o por que de ter feito aquilo, mas aquelas pedras preciosas me lembravam demais o seu olhar, acho que foi por isso, mas não importa. O que era realmente importante seria o que eu precisava dizer a ela, algo que pensei durante minha ida ao clube. Chegando ao local fui cumprimentado como de costume por várias Courtesans que já não me assediavam mais pois sabiam quem eu realmente queria, mas ao mesmo tempo, não pareciam decepcionadas com tal fato. Todas menos uma: Daphné, que se apresentou alguns dias após eu ter ido ao Le Chat Noir pela primeira vez.
- Olá meu Duque, como vai? - Disse ela aproximando-se de mim.
- Vou muito bem obrigado. - Respondi friamente me sentando em uma mesa tirando-a de meu caminho.
- Notei que o senhor trouxe um presente, posso saber para quem é? - Disse olhando para mim se segurando nas bordas da mesa expondo seu grande decote e o aproximando discretamente.
- Eu preciso mesmo responder? - Me aproximei de seu rosto encarando-a.
- Claro, há muitas courtesans aqui, pode ser um presente para qualquer uma de nós. - Abriu um sorriso amarelado em seu rosto não se intimidando com meu olhar.
- É uma pena ou muita sorte que nem todas sejam como você não é Daphné? - Continuei a encarando.
- Eu diria que é muita sorte, posso ser diferente de todas. - Me olhou de forma provocante acariciando minhas pernas.
- Todas vocês são Courtesans, todas são iguais e você não é melhor que qualquer uma aqui. A propósito o show vai começar e vou ter que desviar minha atenção de você, então se não for pedir muito, suma daqui. - Ironizei desviando meu olhar para o palco.
- Que desperdício. - Resmungou Daphné irritada indo em direção ao bar. Após o término do show, da mesma forma discreta de sempre me dirigi ao quarto de Juliete a esperando. Enquanto ela não chegava, resolvi olhar sua vista pela janela e nunca havia visto Paris de um ângulo como aquele, onde a fama de Cidade Luz se fazia confirmar por completo, era algo divino!
- Demorei muito? - Disse ela sussurrando em meu ouvido e me abraçando por trás.
- Sem atrasar um segundo como sempre. - Sorri.
- Então, o que o meu Duque quer de mim hoje? - Perguntou encostando-se em mim.
- Hoje precisamos conversar. - Respondi me virando de frente.
- Pois então, vamos conversar! - Afirmou ela me puxando para sua cama segurando minhas mãos-
- Bom, primeiro eu gostaria de lhe dar isto. - Retirei do meu bolso a caixinha com sua pulseira abrindo-a e a mostrando.
- Alaster... Isso é lindo! Me desculpe mas não posso aceitar. - Disse ela com um enorme sorriso em seu rosto e um lindo brilho em seu olhar.
- Me desculpe mas você vai aceitar sim, só não fiquei cego por que não custou os olhos da cara. Mas me lembrei muito de você quando vi esta pulseira. Ela me lembra seus olhos. - Disse colocando a jóia em seu pulso.
- Você não presta sabia?! - Disse ela rindo. - Muito obrigado, meu Duque. Alaster, suas mãos estão machucadas! O que houve? - Perguntou assustada vendo os cortes causados pelo meu desentendimento com Argost.
- Está tudo bem meu anjo, estava fazendo um drink que levava limões na receita então na hora de cortá-los acabei me ferindo. - Menti.
- E onde estavam seus empregados para fazê-lo para você? - Perguntou indignada.
- Quem precisa de empregados? Eu tenho minhas mãos! - Afirmei.
- Acho que preciso colocar juízo na cabeça do senhor, mas me diga o que queria conversar comigo.
- Juliete... - Olhei em seus olhos.
- Alaster. - Olhou de volta.
- Vou ser direto e claro, minha família não está gostando nada disso que está acontecendo entre nós e por isso eles querem que eu me case com a Princesa da Inglaterra.
- Prossiga. - Disse com um atento olhar de desespero e decepção.
- Mas, estou apaixonado por você. Tenho certeza disso pois em cinco meses que venho aqui, não há mulher que eu deseje mais do que você. Então, quero lhe pedir uma coisa. - Olhei em seus olhos.
- Peça. - Disse ela trêmula segurando minhas mãos.
- Minha courtesan, quer se casar comigo? - A encarei e apertei um pouco suas mãos.
- É isso mesmo o que quer? Abrir mão de uma princesa, de uma vida ao lado de alguém como você para viver com uma courtesan, uma mulher que vive para satisfazer outros homens? - Indagou.
- A única que é como eu é você, não ligo de ser uma Courtesan, mas terá de ser a minha. - Segurei seu rosto.
- Então, sim. - Respondeu ela segurando uma das minhas mãos e não desviando seu olhar do meu.
- Eu juro, que se necessário, eu abro mão do meu próprio nome para ficar com você, eu te amo! - Disse a abraçando.
- Eu também amo você, demais! - Correspondeu ao meu abraço. E assim, é que um homem realmente toma as rédeas de sua própria vida.

domingo, 9 de janeiro de 2011

Nouvelle Perspective - Parte 1

Nunca gostei de contos de fadas, bem como nunca perdi meu tempo com qualquer história de amor. Essa é a postura na qual a maioria dos homens tomam com relação à paixão e romance. E tudo isso passa a se tornar algo infantil e feminista, onde todo aquele sentimentalismo é tachado como fraqueza, anti-machista e até mesmo como homosexualismo. Entretanto, o irônico de tudo isso é como toda esta ignorância é deixada de lado por causa de uma... Mulher. E quando isso acontece meu amigo, qualquer romance passa a ser ridículo e insignificante, a não ser o seu próprio.
Em Paris, tudo ao seu redor cheira a luxúria, futilidade e ostentação. Isso quando você faz parte da elite francesa, classe social na qual eu pertencia. Eu era filho dos Duques franceses Aldebaran e Desiré Chevalier, e naquela noite estávamos prestes a receber toda a elite européia em um evento que ocorre anualmente e este ano, seríamos os anfitriões. Mas eu não planejava fazer parte da realeza, não hoje.
- Alaster! - Disse minha mãe entrando em meu quarto.
- O que você quer? - Perguntei terminando de me arrumar.
- Arrume-se logo, o evento começará em meia hora. - Avisou.
- Não importa, não pretendo estar aqui esta noite. - Encerrei.
- Aonde pensa que vai? - Perguntou com tom de sinismo.
- Eu não sei, Paris é imensa! - Ironizei.
- Não hoje meu filho, esta noite você não sairá daqui.
- Apenas mande meus cumprimentos ao rei inglês e amanhã, me avise quando será o casamento de vocês. - Respondi me olhando no espelho.
- Moleque insolente! - Gritou minha mãe estapeando meu rosto. - Arrume-se logo e trate de colocar um sorriso nesse seu rostinho.
- Francamente, você fede. - Saí irado de meu quarto indo em direção ao Hall principal.
- Hei pirralho, aonde vai? A festa vai começar daqui a pouco! - Indagou Argost, meu irmão mais velho, parando-me no corredor.
- Aonde vou, não lhe diz respeito. - Respondi tirando-o do meu caminho.
- Melhor assim, sobram mais mulheres para mim. - Ignorando-o desci as escadas encontrando meu pai e antes que pudesse dizer alguma coisa, não disse aonde eu estava indo, apenas que iria dar uma volta. Tomei as chaves do meu carro e saí de minha mansão.
Não havia a menor idéia de onde ir, mas eu havia ouvido rumores de um clube masculino muito bom chamado Le Chat Noir então resolvi ir até lá. Quando cheguei, fui imediatamente assediado por várias Courtesans, apesar de aparecer muito pouco na cidade, todos conheciam a mim e a minha família. Mas ignorando a todas fui de encontro a uma mesa onde o dono do estabelecimento veio pessoalmente dar seus cumprimentos à mim.
- Senhor Chevalier! Que honra ter o senhor em meu clube, meu nome é Dom Pietro às suas ordens. - Disse ele apertando minha mão.
- Muito obrigado, estou procurando um pouco de distração e soube que seu clube é um dos melhores de toda Paris. - Respondi cumprimentando-o de volta.
- É o melhor de todos meu senhor! Lhe garanto que não encontrará moças mais belas do que as presentes aqui! Mas me diga o que posso fazer pelo senhor? - Perguntou me conduzindo ao salão principal.
- Por enquanto apenas uma mesa discreta, não quero chamar mais atenção.
- Muito bem, esta aqui está de acordo com os gostos do Duque? - Perguntou ele apontando para uma mesa bem à minha frente.
- Está perfeita, muito obrigado. - Agradeci me sentando.
- Ótimo, seja o que precisar, pode chamar qualquer uma de minhas Courtesans, garanto-lhe que será uma honra para cada uma atendê-lo jovem Duque! - Disse ele voltando para a entrada do local.
O lugar era muito bonito e realmente fazia jus à fama que tinha, principalmente pelas Courtesans. São todas  maravilhosas, mas nenhuma chamara minha atenção. Isso até o show começar, onde a vi pela primeira vez, tão radiante, tão linda. Era como se cada luz do local a procurasse para iluminá-la e ela era tudo que meus olhos conseguiam enxergar. Eu não sabia quem era ela, mas precisava conhecê-la. Após sua apresentação, perguntei a Dom Pietro onde podia encontrá-la e então fui até os camarins atrás do palco onde lá estava ela terminando de tirar sua maquiagem.
- Olá. - Disse me aproximando.
- Olá cavalheiro, como posso servi-lo? - Respondeu ela um pouco surpresa.
- Estava observando-a e me admirei muito com sua apresentação. E quero passar minha noite com você. - Disse olhando em seus olhos.
- E o que o faz pensar de que serei sua esta noite? - Indagou com certo charme.
- Você é uma réles courtesan, eu sou o filho do Duque francês. Sua obrigação é me obedecer e minha ordem agora é: me dê o seu melhor. - Ordenei.
- Me sinto lisongeada em saber que alguém tão importante como o senhor escolheu a mim para satisfazê-lo, mas devo lhe dizer meu Duque, para ter a mim deverá ser mais gentil. - Alertou.
- Não se preocupe, garanto que terá a melhor noite de sua vida. - A encarei.
- O senhor é tão convicto de si. - Respondeu me devolvendo o olhar abrindo um sorriso amarelado.
- Um homem na minha posição não pode se deixar levar pela insegurança. - Disse me aproximando de seu rosto.
- E nem mesmo pelo calor de uma mulher? - Indagou passeando um de seus dedos pelo meu peito.
- Foi isso que vim buscar aqui. - A encarei novamente.
- Muito bem, acabou de encontrar o que procurava, cavalheiro. - Sorriu encostando-se sobre mim.- Me chame apenas de Juliete. - Disse ela me beijando e me empurrando para sua cama. É incerto dizer que esta havia sido a melhor noite de sua vida, mas eu tinha a absoluta certeza de que aquela mulher não era uma simples Courtesan.

sábado, 8 de janeiro de 2011

Dezembro

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Cometemos um grave erro. Um preço alto a se pagar pela melhor noite que tive em minha vida. Era uma gélida manhã de Domingo em Londres, onde acordei cedo, vesti sua camiseta e me dirigi ao banheiro de sua suíte. Lavei meu rosto e me olhei rapidamente no espelho voltando para a porta encostando-me no batente. Aproveitei a meia luz iluminando o quarto para observá-lo e naquele momento tomei consciência da loucura que havíamos cometido.
Ele dormia tão tranquilamente, mal tinha consciência do quanto nossas vidas iriam mudar. Então, pensar nas consequências de um ato tão belo porém tão perigoso, me fez entrar em pânico. Lágrimas de desespero corriam pelo meu rosto e tudo que pude fazer foi me encostar na parede e sentar no chão, pois a essa altura eu já havia perdido o controle de mim mesma.
Notando minha ausência ao seu lado na cama, ele despertou e caminhou lentamente em minha direção e sem que eu precisasse explicar qualquer coisa, ele se sentou ao meu lado e me abraçou.
- Erramos não é? - Indagou.
- Sim. - Respondi me aconchegando em seu peito.
- Eu imaginei. - Disse ele olhando para o nada, porém senti muita conformidade e segurança em sua voz.
- Você não está com medo? - Perguntei encarando-o.
- Estou aqui, não estou? - Respondeu ele de forma autoritária.
- Está. - Respondi assustada com seu tom de voz.
- Eu tenho você, não tenho? - Perguntou mais tranquilo.
- Claro que tem. - Respondi ainda assustada.
- Então não há o que temer.
- Mesmo?- Perguntei olhando em seus olhos.
- Mesmo. E se tiver algo que você tenha medo, deixe que eu tema por você. - Respondeu ele com uma voz calma e acolhedora.
- Eu te amo. - Declarei.
- Eu também. - Devolveu-me a declaração. E naquele momento qualquer coisa que pudesse me assustar, havia se erradicado de mim.

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Afterlife - Parte Final


Foram apenas 24 horas. Mas foram às 24 horas mais lentas de toda minha vida, porque até então, ainda estava vivo. Mas minha hora de voltar havia chegado; o momento no qual mais esperei durante meu período no Plano Espiritual, meu ferimento à essa altura já estava começando a ferver, a dor me consumia a cada segundo que passava mas minha determinação em retornar para Terra me fazia ignorá-la. Já não importa mais como voltarei e o que terei de fazer. Estou disposto a tudo, nem que para isso eu tenha que voltar mais cedo para cá. A morte é forte, mas ainda não morri. Ícaro estava ao meu lado andando pelos corredores do hospital me conduzindo até o lugar para onde eu realizaria meu desejo, no caminho, procurei pensar em tudo que havia visto e escutado. Apesar de não ter absorvido tudo da maneira certa, aprendi muito aqui. Aprendi que não podemos fazer tudo, mas posso fazer tudo que eu puder. Aprendi que seres humanos são medíocres, mas o quanto são valiosos aqueles que me mostram o contrário e o quanto são importantes para mim. Sacrifícios nunca são em vão, na verdade, é o mais próximo que podemos chegar de um Deus. Não existe nada mais abençoado do que a vida, ela pode ser dura, mas eu sou mais. Milagre não é ver o impossível acontecer diante de seus olhos, é poder ver tudo que é possível ser posto em prática e ainda sim, se contentar com um fracasso.
E enfim chegamos em meu destino final. Era o lugar onde eu havia chego e estava exatamente da mesma forma. Os mesmos papéis jogados nas ruas, os mesmos carros destruídos, inclusive aquele onde Ícaro surgiu pela primeira vez.
- Muito bem Vincent, chegou a hora. – Disse Ícaro parando em frente à mim.
- Estou pronto. – Respondi olhando em seus olhos.
- É realmente isto o que quer? – Indagou mais uma vez.
- Sim. – Mantive meu olhar.
- Pense bem, lembre-se de que você tem um preço a pagar pela escolha que tomou. – Advertiu Ícaro.
- Tenho motivos suficientes pra retornar, e além do mais, voltarei para cá um dia. – Respondi decidido.
- Que assim seja. Mas diga-me Vincent, apenas uma última pergunta: o que o faz querer voltar? O que o motiva a recusar o descanso eterno para ter de volta um lugar tão imundo no qual você aparentemente não fazia a menor questão de estar.
- Minha vida. Não há nada que eu não valorize mais, a única coisa na qual possuo.
- Vindo de alguém que praticava um lento suicídio todos os dias chega a ser surpreendente.
- Uma coisa é você não valorizar sua vida, outra é como cuida de seu corpo. Quando eu morrer minha carcaça não passará de comida de vermes. Não perderei meu tempo cuidando do que está por fora e sim do que tenho por dentro.
- Então você teme a morte? – Disse Ícaro se afastando e dando alguns passos para os lados.
- Não a temo, apenas não quero vê-la tão cedo.
- Você a teme sim. - Afirmou.
- Como está tão convicto disso? - Indaguei.
- Eu sinto isso em você. - Respondeu Ícaro parando em minha frente mais uma vez.
- E o que isso quer dizer? - O encarei.
- Quer dizer que você provavelmente não irá gostar do que verá daqui a um instante.
- Como assim? – Após minha pergunta, uma névoa negra começou a surgir em torno de Ícaro cobrindo-o por completo. Aos poucos a fumaça junto com Ícaro foram desaparecendo surgindo à mesma criatura que havia me atacado quando cheguei aqui. – Você... Você é aquela criatura! – Afirmei espantado ao ver aquele monstro.
- Sim Vincent, eu o ataquei quando chegou aqui. Peço desculpas, não havia o menor conhecimento de quem você era, até ver o crucifixo de sua mãe. – Disse ele vindo em minha direção.
- O que você é? – Indaguei a ele ainda sem reações.
- Sou um Ceifador Vincent, às vezes alguns espíritos de outros círculos acabam vindo para cá e é minha obrigação mandá-los de volta. E este será o seu trabalho em breve.
- O.... Meu?! – Arregalei meus olhos.
- Sim, este é o preço pela sua decisão.
- Como você se tornou isso?
- Você não é o único que não valorizava seu corpo Vincent. E nem foi o primeiro a parar aqui por causa de um acidente. A diferença é que eu era o condutor do carro quando bati em um poste de uma rodovia alemã. E claro, escolhi ficar aqui.
- Mas se escolheu ficar, por que se tornou esta criatura?
- Por que esse é o preço para quem tem o privilégio de escolher entre ficar e voltar Vincent. Sua ferida irá se curar, mas, carregará para sempre esta chaga, até que o próximo bem aventurado surja em seu caminho. Ainda sim, quer voltar e aceitar seu destino?
- Sim. – Respondi sem hesitar, perdendo qualquer medo que ainda habitava em mim.
- Pois bem, me dê seu crucifixo. – Disse ele estendendo sua mão.
- Aqui está. – Retirei o amuleto do meu pescoço e o entreguei. – Entregue isto à mamãe e diga ela que vou querer de volta.
- Vou dizer.
- Obrigado Ícaro, por tudo.
- Não precisa agradecer jovem jornalista. Agora você tem que ir, quando acordar, tudo não passará de um sonho. – Explicou Ícaro amarrando o crucifixo em sua foice. – E lembre-se Vincent, você nunca está sozinho.
- Nunca esquecerei. – No instante seguinte, Ícaro me golpeou com sua foice e uma forte luz branca surgiu em meus olhos.
Quando acordei, estava sendo iluminado pela luz do quarto onde meu corpo estava. Minha visão se clareou aos poucos, quando notei Helena e Barbara ao meu lado, em prantos, mas com um imenso sorriso em seus rostos.
- Isso é um milagre! – Disse Helena pulando na cama e me abraçando.
- Não há outra explicação! – Respondeu Barbara saltando para me abraçar do outro lado da cama.
- Tudo bem, eu ainda estou vivo, mas não por muito tempo desse jeito! Tem o suficiente de mim para vocês duas aqui. – Todos começamos a rir e ficamos alguns minutos dessa forma enquanto eu me recuperava totalmente. – Vocês não vão acreditar no sonho que eu tive!
- Certo, agora descanse e depois você conta para nós este sonho. Agora que você está bem, terá alta amanhã. – Disse Barbara, acariciando meu rosto.
- Só amanhã?! - Perguntei inconformado.
- Isso mesmo, agora fique quieto e descanse. – Ordenou Barbara
- Está bem, mas depois podemos sair para comer alguma coisa? - Sugeri
- Naquela sua cafeteria favorita por exemplo? – Perguntou Helena.
- É por isso que eu te amo sabia?
- Você não me ama, você deve estar querendo transar comigo!
- Juro que não. – Menti, mas disfarcei rindo.
No dia seguinte, após acordar me dirigi ao banheiro e lavei meu rosto, escovei meus dentes como de costume e desci encontrando Barbara arrumando a mesa para o café.
- Bom dia flor do dia! – Brincou Barbara.
- Bom dia pra você também Barbara. – Respondi sorrindo, mas, um pouco entorpecido pelo sono.
- Acordou bem na hora do café da manhã, como sempre. – Sentou-se Barbara.
- O cheiro das panquecas sempre me acorda! – Me sentei ao seu lado.
- Fico feliz em saber que você gosta das minhas panquecas! Enfim, sirva-se à vontade.
- Muito obrigado, madrasta!
- Seu acidente mexeu mesmo com você, até parou de me ver como uma bruxa má. – Disse Barbara surpresa e servindo-se.
- Eu descobri que você não matou a Branca de Neve e nem envenenou a Bela Adormecida. – Brinquei também me servindo.
- Você está bem mesmo? Não quer que eu faça um chá para você ou lhe dê algum remédio para dor de cabeça? – Disse Barbara ainda surpresa colocando as costas de sua mão em minha testa e em minhas bochechas, procurando algum sinal de febre.
- Estou perfeitamente bem! Mas andei pensando em algumas coisas e percebi que estou sendo muito injusto com você Barbara!
- Ao que se refere?
- Ao modo que sempre a tratei desde que a conheço.
- Confesso que nunca esperei ouvir isso, achava que para você eu era alguma terrorista ou Usurpadora!
- Na verdade, vou enxergá-la com outros olhos. Você jamais vai substituir minha mãe, mas tudo que tem feito por mim e pelo meu pai é digno de alguém que merece ser chamada de mãe.
- Minha intenção nunca foi substituí-la Vincent, mas me esforço todos os dias para chegar o mais perto possível dela. Fico muito feliz em saber que você me deu essa chance.
- Desculpe Barbara, você jamais chegará perto da minha mãe, assim como ela nunca chegará a se comparar a você. São coisas totalmente opostas, mas se não fosse você acho que passaria fome todos os dias de manhã, não por opção, e sim por obrigação. Entre tantas outras coisas que você faz.
- Então, agora somos amigos? – Perguntou ela sorrindo.
- Mais do que isso, somos exemplos de relações intraespecíficas positivas! – Respondi retribuindo o sorriso.
- Começou! Vamos comer logo antes que eu fique com dor de cabeça com essa sua língua totalmente desconhecida pela humanidade. – Encerrou Barbara pegando uma torrada junto com um pote de manteiga.
- Como todo prazer! – Terminei pegando uma panqueca e servindo suco de laranja em meu copo.
No fim daquele dia, Helena e eu fomos esvaziar nossos armários e pelo visto, éramos os últimos a recolher todos os livros de três anos de estudo.
- Enfim, acabou. – Disse a ela enquanto colocava meus livros dentro de uma caixa.
- Pois é esses três anos passaram como 3 segundos. – Respondeu Helena fazendo o mesmo.
- Não sei como você me agüentou durante três anos, confesse: eu nunca te enchi o saco? – Indaguei colocando meu último livro na caixa.
- Está brincando? Você me enchia o saco todo dia! – Exclamou Helena, colocando em uma nécessaire alguns cosméticos que guardava em seu armário quando uma foto caiu de dentro dele.
- E o que é isso? – Disse pegando a fotografia. – Não acredito! – Exclamei espantado com o que estava vendo.
- Hei! Quem disse que era para você ver isso?! – Respondeu Helena, vermelha de vergonha.
- A nossa primeira foto juntos e... Olha só, uma dedicatória no verso! – Virei a imagem e comecei a ler o que estava escrito: “As pessoas acreditam que vão viajar para o verão, mas você e eu vivemos e morremos. O mundo está girando e não sabemos por quê.”
Oasis, Champagne Supernova. Que por acaso, foi a música que mostrei a você no dia em que nos conhecemos.
- É sim, agora me dá isso aqui! – Disse Helena tomando a foto de minhas mãos.
- Eu não sabia que você guardava isso ainda. – Disse a ela encostando-me nos armários a observando.
- Tem muita coisa que você não sabe seu troca letras desgraçado! Mas, me diga, vai mesmo querer ser um jornalista? – Disfarçou Helena.
- Você não tinha uma desculpa melhor estilista de brechó? – Sorri.
- Desculpa para quê? – Disse Helena me encarando.
- Desculpa para disfarçar o que eu e você escondemos um do outro nesses três anos. – Fiquei de frente para ela me apoiando com um dos braços no armário a encostando no mesmo.
- E o que escondemos um do outro todo esse tempo? – Perguntou Helena olhando em meus olhos.
- O fato de que você é louca por mim e que sou apaixonado por você desde a primeira vez que a vi entrando na sala de aula e se sentando ao meu lado. – Correspondi ao seu olhar.
- E como se sente? – Perguntou mordendo seus lábios.
- Que já esperei demais para fazer isso. – Disse passando minha boca pelo seu rosto.
- Então faça. – E eu a beijei. Quando senti o toque de seus lábios pela primeira vez foi como se tudo ao meu redor tivesse deixado de existir. Tudo que eu podia ver era Helena. E naquele momento, havia encontrado algo no qual, valia à pena viver - Vincent. – Disse Helena parando o beijo e me encarando.
- Helena. – Respondi acariciando seu rosto.
- Eu te amo. – Isso soou como uma punhalada no coração, mas eu não sentia dor alguma.
- Eu também te amo. – Respondi a abraçando. – E aquela história sobre transar, foi pra valer? – Brinquei.
- Daqui a 2 anos quem sabe, seu safado! – Respondeu Helena me estapeando e rindo.
- A propósito, lembra que eu ia te contar sobre meu sonho?
- Lembro sim, me conte tudo! Em detalhes.
- Foi à coisa mais louca! Eu tinha acordado em uma cidade deserta, aí um ceifador veio atrás de mim e depois ele virou um cara com um terno preto muito estiloso e começou a me explicar tudo sobre o lugar e eu vi a minha mãe! A gente conversou muito sobre tudo, até falei de você para ela...
E desde então, se passaram 20 anos desde meu acidente. Me tornei um jornalista e Helena virou uma brilhante estilista com uma marca e várias coleções próprias! E também nos casamos. Barbara e eu nos tornamos ótimos amigos, aprendi a enxergá-la com outros olhos assim como nunca mais cheguei perto de qualquer droga. A não ser a tão tradicional Vodka, mas só uma vez por semana no fim de um expediente. Vivi muito bem até completar 37 anos quando descobri um tumor cerebral que me tirou a vida. E como já era certo, retornei para o Círculo Um, mas dessa vez para ficar. Onde fui recebido por Ícaro e minha mãe, já pronto para começar meu novo trabalho.
Foram anos e anos guardando o Círculo Um, vi toda minha família se reunir comigo, todos da forma em que desejavam estar. Helena estava como eu, Barbara e papai estavam mais velhos. E assim vivi minha eternidade até um dia quando surgiu um espírito diferente. Ele havia saído de dentro do hospital e estava com um ferimento em seu peito causado por uma bala vinda de uma arma de fogo. Estava prestes a atacá-lo transformado em Ceifador quando notei que ele portava um crucifixo diferente do meu. Então fui para trás de um carro, tomei minha forma humana e me sentei no capô do automóvel eobservando o rapaz.
- Você é novo por aqui e se saiu muito bem! – Exclamei olhando-o se levantar.
- Quem é você? Que lugar é esse? O que era aquilo? – Disse se levantando e me encarando.
- São muitas perguntas, mas explicam o porquê de você ser um jornalista! – Disse para ele rindo.
- Quer parar de rir de mim e responder o que perguntei? – Respondeu impaciente.
- Tudo em seu tempo jornalista! Meu nome é Vincent e este lugar bom, você que é um grande entendedor da literatura, podemos dizer que é como os Campos Elíseos da Divina Comédia de Dante Alighieri.
- Campos Elíseos? Aquilo queria me matar e você chama isso aqui de paraíso?! – Indagou assustado.
- Te matar? Você já está morto! – Parou por um instante, arregalou seus olhos e parece que dessa vez, a ficha acabara de cair.