
quarta-feira, 24 de novembro de 2010
Afterlife - Parte 4

quarta-feira, 17 de novembro de 2010
Afterlife - Parte 3
Eu estava morto, era um fato que eu deveria aceitar. Mas cada vestígio mental que ainda me restava simplesmente se recusava a acreditar nisso. Imediatamente após as palavras de Ícaro, as imagens do acidente que me tirou a vida passaram pelos meus olhos. Dei alguns passos em direção a um carro e olhei meu reflexo pelo vidro dianteiro onde notei que eu possuía um profundo corte na minha testa. Passei uma das mãos pelo ferimento e senti uma aguda dor.- Tudo está claro agora não é? – Disse Ícaro se aproximando de mim e ficando ao meu lado.
- Foi tudo tão... Rápido. – Respondi, encarando meu próprio reflexo. – Eu não posso estar morto, só tenho 17 anos! Como isso pôde acontecer?!
- Você poderia ter até mesmo 50 anos, quando à sua hora chega, nada impede as coisas de acontecerem Vincent. – Explicou Ícaro.
- Que lugar é esse? – Indaguei desviando meu olhar para Ícaro.
- Como eu disse, estamos em uma dimensão que se assemelha aos Campos Elíseos, chamada de Zero. Aqui é o lugar para onde vão aqueles que foram mortos em acidentes, você teve muita sorte de vir parar aqui. Venha, vou lhe explicar. – Ícaro pôs uma das mãos em um dos meus ombros e começamos a andar pela cidade.
- Eu poderia ter ido parar em um lugar, pior? – Indaguei.
- Zero é o primeiro dos cinco vales por onde os mortos podem ir, o que define para onde eles vão são suas ações na Terra. E são eles Zero, Um, Dois, Três, Quatro e Cinco. O vale Um é para onde vão os suicidas, Dois os viciados, Três os corruptos, Quatro os assassinos e Cinco o último e pior de todos, é para onde vão os estupradores e pedófilos. Estive observando você alguns meses antes de sua morte e você era um cara bem perturbado Vincent. Confesso que me impressionei devido ao vale que você veio parar e no lugar onde você parou nele. Eu estava certo de que você iria para o vale Um ou Dois.
- Um ou Dois? Não entendo, eu nunca tentei suicídio em toda minha vida! E também não tenho nenhum vício. – Exclamei.
- Nunca tentou se matar porque você já estava morto Vincent, morto por dentro. A única coisa que mantinha sua alma na Terra era o seu corpo, coisa que você não andava cuidando muito bem. Ou por acaso já se esqueceu do álcool e das drogas, isso é considerado suicídio, uma lenta e dolorosa morte. – Continuou Ícaro com sua explicação.
- Certo, se meu propósito em Terra terminou, qual é o meu aqui? – Indaguei.
- Isso é algo que terá de descobrir sozinho jovem jornalista. Sem mais perguntas, agora preciso ir. – Disse Ícaro afastando-se de mim.
- Ícaro espere! Eu não posso ficar aqui, tenho muitas coisas ainda para fazer em Terra e Barbara e Helena sentirão minha falta. Não há um jeito de voltar?
- Ora Vincent, para que voltar? Olhe a sua volta, todos que estão aqui são privilegiados. Está vendo este Sol que nos ilumina? Ele é o sinal de toda a esperança e prosperidade deste lugar. – Encerrou Ícaro.
- Então há como voltar. – Concluí.
- Eu não disse isso.
- Mas quis dizer, eu posso ser um privilegiado, mas não escolhi estar aqui. E pelo que sei, nem mesmo a vontade do destino pode intervir em meu livre arbítrio.
- Perfeitamente. Entretanto, você também não escolheu ser atropelado e isto não depende da sua vontade.
- Correção: a vontade dos outros não corresponde a mim. Lembro muito bem que o farol estava vermelho para o trânsito no momento do acidente, portanto não foi um erro meu.
- Tudo que fizer em Terra irá influenciar em todos à sua volta. Assim como o motorista que o atropelou. Ele escolheu infringir as leis de trânsito e como consequência, você veio parar aqui.
- Por isso mesmo, das coisas que fiz em Terra, não era para eu estar aqui.
- Claro que não, era para estar em outro vale. Se quiser pode ir para algum deles, mas garanto-lhe que não são como o Zero.
- Eu não estou dizendo que quero ir para outro vale. E sim que quero voltar para Terra.
- O vale Zero, possui este nome porque é onde aqueles que foram bons no plano físico, podem recomeçar, mas aqui.
- Eu quero voltar.
- Persistente, curioso, inteligente. Um perfeito jornalista; você seria brilhante em sua profissão garoto. Pois bem, é isso mesmo o que quer? – Indagou de forma intrigada Ícaro.
- Sim.
- Mas terá um preço.
- E qual é?
- Nada se consegue sem merecimento e sacrifício Vincent. Até lá, o quarto onde despertou será sua casa. Em breve nos veremos de novo.
- Isto aqui por acaso é o Céu? – Perguntei.
- Não existem Céu e Inferno garoto, e sim a eternidade. – Respondeu Ícaro desaparecendo.
Enquanto retornava ao hospital fui refletindo sobre tudo que Ícaro havia me dito, no fundo, eu queria voltar, eu precisava. Mas se estou aqui não é por acaso. Chegando ao hospital, me sentei em um degrau da escada na entrada principal. Retirei o bilhete do meu bolso e o encarei por um instante quando de repente, várias pessoas começaram a transitar pelas ruas. O Sol estava mais radiante do que nunca e pela primeira vez, eu não estava sozinho.
segunda-feira, 15 de novembro de 2010
Afterlife - Parte 2

E lá estava eu, não tinha a menor idéia de onde me encontrava, mas, lentamente fui recuperando minha consciência e notei que estava deitado em uma cama que se assemelhava muito com um leito hospitalar iluminado por uma pouca luz solar incidida pela janela que estava de cortinas fechadas. Me sentei na cama e comecei a olhar para os lados, parecia não haver ninguém por perto, então avistei em uma cômoda logo a minha frente um crucifixo de prata, junto de um bilhete com meu nome escrito. Então me levantei e com certa dificuldade fui até o móvel pegar o bilhete, o abri e nele havia a seguinte mensagem:
“Em breve nos veremos, até lá, isto lhe será muito útil. – Diana”
Após ler o que estava escrito tomei em mãos o crucifixo e o encarei por alguns segundos. Enquanto tentava entender o que estava acontecendo, tudo estaria perfeitamente normal a não ser pelo fato de que Diana fosse minha mãe que havia morrido após meu nascimento. As coisas estavam muito confusas e eu precisava sair daqui então coloquei o crucifixo em meu pescoço guardei o bilhete em meu bolso e saí da sala onde eu estava me deparando com um imenso corredor, que assim como o quarto, era muito parecido com o de um hospital. Então olhei para os lados e vi uma porta no fim de um corredor parecendo que seria uma saída, corri até ela e abrí-a com violência mostrando uma cidade devastada, era como se houvesse tido uma guerra onde não houvessem sobreviventes. Saí andando pelas ruas a procura de alguém para me ajudar. Comecei a gritar perguntando sem sucesso se havia alguém por aqui, então me sentei em um banco na calçada quando comecei a ouvir um som muito estranho do qual não havia a menor idéia do que poderia ser.E então notei que uma sombra havia coberto o meu corpo e quando olhei para trás havia uma criatura prestes a me dilacerar com uma foice, então em um súbito reflexo, me joguei no chão escapando de seu ataque. Me levantei depressa e comecei a correr como nunca havia corrido antes quando fui surpreendido pela criatura que surgiu na minha frente, caí para trás e comecei a me rastejar para longe da criatura quando ela chegou a centímetros de mim, observou que eu possuía um crucifixo e imediatamente cessou seu ataque e desapareceu do mesmo jeito que surgiu.
- Você é novo por aqui, se saiu muito bem Vincent! – Exclamou um homem que estava sentado no capô de um carro e aparentava ter no máximo 30 anos de idade de cabelos pretos e curtos que usava um chapéu e terno pretos.
- Quem é você? Como sabe meu nome? Que lugar é esse? O que era aquilo? – Disse me levantando e o encarando.
- São muitas perguntas Vincent, mas elas explicam o porquê de você querer se tornar um jornalista. – Disse o homem rindo de mim.
- Quer parar de rir de mim e responder o que perguntei? – Respondi perdendo minha paciência.
- Tudo em seu tempo jovem jornalista, meu nome é Ícaro, esse lugar, bom, você que conhece bem a literatura, podemos dizer que é como os Campos Elíseos.
- Campos Elíseos?! Aquilo queria me matar e você chama isso aqui de paraíso? – Indaguei a Ícaro.
- Te matar? Vincent, você já está morto! – Parei por um instante, arregalei meus olhos e dessa vez, a ficha acabara de cair.
domingo, 14 de novembro de 2010
Afterlife - Parte 1

Acordar de um sonho nem sempre é ruim, mas ultimamente eu não estava com muito saco para isso. Em uma vida de estudante de colegial não há tempo nem ao menos para dormir quanto mais sonhar e quando menos percebi, já eram 8 da manhã do dia 8 de agosto de 2008 e mais uma vez lá estava eu indo para mais um dia da minha cansativa e estressante rotina de todos os dias. Levantei da cama e me dirigi até o banheiro onde tirava meu pijama enquanto entrava dentro do Box. Ligava o chuveiro para um breve banho matinal enquanto tentava ocupar meus pensamentos com alguma coisa, mas, as únicas palavras que surgiam em minha mente eram “que inferno”. Após sair do banho, vesti minhas tradicionais calças e sapatos pretos junto com uma camisa xadrez vermelha, apanhei minha mochila junto com meu aparelho de mp3 e desci para ir para mais um dia de escola.
- Não vai tomar café Vincent? – Disse Barbara, minha madrasta.
- Não, estou atrasado para a aula, até mais tarde. – Respondi saindo de casa.
Durante o caminho coloquei os fones do meu mp3 em meus ouvidos e procurei uma música para ouvir, escolhi “Bat Country” da banda Avenged Sevenfold era a primeira música que eu escutava todos os dias durante a minha ida à escola. Eu observava todos os outros alunos indo com seus carros importados pelas ruas, todos eles sem qualquer idéia de quem eram ou o que queriam fazer de suas vidas, eram apenas pirralhos de 17 anos de idade com um pensamento medíocre e vazio movido a estrógeno e testosterona. Eu não precisava de nada disso, era meu último ano e eu não via a hora de tudo acabar e não ver mais nada disso, erradicar tudo da minha rotina, mudar tudo de uma vez por todas, a música já estava no fim e eu já havia chegado ao meu destino.
- Você chegando antes do sinal bater, que milagre! – Disse Helena, minha única amiga na escola me encontrando na escadaria da porta principal do colégio.
- Eu não tive uma boa noite de sono, então saí da cama em vez de ficar perdendo tempo.- Respondi com um sorriso amarelado.
- Você nunca cansa da mesma desculpa? – Indagou Helena entrando comigo.
- É que eu tenho preguiça de arranjar outra. – Fitei-a.
- Você nunca vai mudar. – Me respondeu jogando o mesmo olhar.
- Está bem, chega disso, vamos logo para a aula. - Encerrei a conversa enquanto entrava na sala de aula com Helena.Passaram-se uma, duas, três horas até que o último sinal tocou e então saí da sala e me dirigi até a saída, tudo estava indo bem até quando fui atravessar a rua e tudo que eu lembrava era de um carro vindo em minha direção e de Helena em desespero correndo até mim.