terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Afterlife - Parte Final


Foram apenas 24 horas. Mas foram às 24 horas mais lentas de toda minha vida, porque até então, ainda estava vivo. Mas minha hora de voltar havia chegado; o momento no qual mais esperei durante meu período no Plano Espiritual, meu ferimento à essa altura já estava começando a ferver, a dor me consumia a cada segundo que passava mas minha determinação em retornar para Terra me fazia ignorá-la. Já não importa mais como voltarei e o que terei de fazer. Estou disposto a tudo, nem que para isso eu tenha que voltar mais cedo para cá. A morte é forte, mas ainda não morri. Ícaro estava ao meu lado andando pelos corredores do hospital me conduzindo até o lugar para onde eu realizaria meu desejo, no caminho, procurei pensar em tudo que havia visto e escutado. Apesar de não ter absorvido tudo da maneira certa, aprendi muito aqui. Aprendi que não podemos fazer tudo, mas posso fazer tudo que eu puder. Aprendi que seres humanos são medíocres, mas o quanto são valiosos aqueles que me mostram o contrário e o quanto são importantes para mim. Sacrifícios nunca são em vão, na verdade, é o mais próximo que podemos chegar de um Deus. Não existe nada mais abençoado do que a vida, ela pode ser dura, mas eu sou mais. Milagre não é ver o impossível acontecer diante de seus olhos, é poder ver tudo que é possível ser posto em prática e ainda sim, se contentar com um fracasso.
E enfim chegamos em meu destino final. Era o lugar onde eu havia chego e estava exatamente da mesma forma. Os mesmos papéis jogados nas ruas, os mesmos carros destruídos, inclusive aquele onde Ícaro surgiu pela primeira vez.
- Muito bem Vincent, chegou a hora. – Disse Ícaro parando em frente à mim.
- Estou pronto. – Respondi olhando em seus olhos.
- É realmente isto o que quer? – Indagou mais uma vez.
- Sim. – Mantive meu olhar.
- Pense bem, lembre-se de que você tem um preço a pagar pela escolha que tomou. – Advertiu Ícaro.
- Tenho motivos suficientes pra retornar, e além do mais, voltarei para cá um dia. – Respondi decidido.
- Que assim seja. Mas diga-me Vincent, apenas uma última pergunta: o que o faz querer voltar? O que o motiva a recusar o descanso eterno para ter de volta um lugar tão imundo no qual você aparentemente não fazia a menor questão de estar.
- Minha vida. Não há nada que eu não valorize mais, a única coisa na qual possuo.
- Vindo de alguém que praticava um lento suicídio todos os dias chega a ser surpreendente.
- Uma coisa é você não valorizar sua vida, outra é como cuida de seu corpo. Quando eu morrer minha carcaça não passará de comida de vermes. Não perderei meu tempo cuidando do que está por fora e sim do que tenho por dentro.
- Então você teme a morte? – Disse Ícaro se afastando e dando alguns passos para os lados.
- Não a temo, apenas não quero vê-la tão cedo.
- Você a teme sim. - Afirmou.
- Como está tão convicto disso? - Indaguei.
- Eu sinto isso em você. - Respondeu Ícaro parando em minha frente mais uma vez.
- E o que isso quer dizer? - O encarei.
- Quer dizer que você provavelmente não irá gostar do que verá daqui a um instante.
- Como assim? – Após minha pergunta, uma névoa negra começou a surgir em torno de Ícaro cobrindo-o por completo. Aos poucos a fumaça junto com Ícaro foram desaparecendo surgindo à mesma criatura que havia me atacado quando cheguei aqui. – Você... Você é aquela criatura! – Afirmei espantado ao ver aquele monstro.
- Sim Vincent, eu o ataquei quando chegou aqui. Peço desculpas, não havia o menor conhecimento de quem você era, até ver o crucifixo de sua mãe. – Disse ele vindo em minha direção.
- O que você é? – Indaguei a ele ainda sem reações.
- Sou um Ceifador Vincent, às vezes alguns espíritos de outros círculos acabam vindo para cá e é minha obrigação mandá-los de volta. E este será o seu trabalho em breve.
- O.... Meu?! – Arregalei meus olhos.
- Sim, este é o preço pela sua decisão.
- Como você se tornou isso?
- Você não é o único que não valorizava seu corpo Vincent. E nem foi o primeiro a parar aqui por causa de um acidente. A diferença é que eu era o condutor do carro quando bati em um poste de uma rodovia alemã. E claro, escolhi ficar aqui.
- Mas se escolheu ficar, por que se tornou esta criatura?
- Por que esse é o preço para quem tem o privilégio de escolher entre ficar e voltar Vincent. Sua ferida irá se curar, mas, carregará para sempre esta chaga, até que o próximo bem aventurado surja em seu caminho. Ainda sim, quer voltar e aceitar seu destino?
- Sim. – Respondi sem hesitar, perdendo qualquer medo que ainda habitava em mim.
- Pois bem, me dê seu crucifixo. – Disse ele estendendo sua mão.
- Aqui está. – Retirei o amuleto do meu pescoço e o entreguei. – Entregue isto à mamãe e diga ela que vou querer de volta.
- Vou dizer.
- Obrigado Ícaro, por tudo.
- Não precisa agradecer jovem jornalista. Agora você tem que ir, quando acordar, tudo não passará de um sonho. – Explicou Ícaro amarrando o crucifixo em sua foice. – E lembre-se Vincent, você nunca está sozinho.
- Nunca esquecerei. – No instante seguinte, Ícaro me golpeou com sua foice e uma forte luz branca surgiu em meus olhos.
Quando acordei, estava sendo iluminado pela luz do quarto onde meu corpo estava. Minha visão se clareou aos poucos, quando notei Helena e Barbara ao meu lado, em prantos, mas com um imenso sorriso em seus rostos.
- Isso é um milagre! – Disse Helena pulando na cama e me abraçando.
- Não há outra explicação! – Respondeu Barbara saltando para me abraçar do outro lado da cama.
- Tudo bem, eu ainda estou vivo, mas não por muito tempo desse jeito! Tem o suficiente de mim para vocês duas aqui. – Todos começamos a rir e ficamos alguns minutos dessa forma enquanto eu me recuperava totalmente. – Vocês não vão acreditar no sonho que eu tive!
- Certo, agora descanse e depois você conta para nós este sonho. Agora que você está bem, terá alta amanhã. – Disse Barbara, acariciando meu rosto.
- Só amanhã?! - Perguntei inconformado.
- Isso mesmo, agora fique quieto e descanse. – Ordenou Barbara
- Está bem, mas depois podemos sair para comer alguma coisa? - Sugeri
- Naquela sua cafeteria favorita por exemplo? – Perguntou Helena.
- É por isso que eu te amo sabia?
- Você não me ama, você deve estar querendo transar comigo!
- Juro que não. – Menti, mas disfarcei rindo.
No dia seguinte, após acordar me dirigi ao banheiro e lavei meu rosto, escovei meus dentes como de costume e desci encontrando Barbara arrumando a mesa para o café.
- Bom dia flor do dia! – Brincou Barbara.
- Bom dia pra você também Barbara. – Respondi sorrindo, mas, um pouco entorpecido pelo sono.
- Acordou bem na hora do café da manhã, como sempre. – Sentou-se Barbara.
- O cheiro das panquecas sempre me acorda! – Me sentei ao seu lado.
- Fico feliz em saber que você gosta das minhas panquecas! Enfim, sirva-se à vontade.
- Muito obrigado, madrasta!
- Seu acidente mexeu mesmo com você, até parou de me ver como uma bruxa má. – Disse Barbara surpresa e servindo-se.
- Eu descobri que você não matou a Branca de Neve e nem envenenou a Bela Adormecida. – Brinquei também me servindo.
- Você está bem mesmo? Não quer que eu faça um chá para você ou lhe dê algum remédio para dor de cabeça? – Disse Barbara ainda surpresa colocando as costas de sua mão em minha testa e em minhas bochechas, procurando algum sinal de febre.
- Estou perfeitamente bem! Mas andei pensando em algumas coisas e percebi que estou sendo muito injusto com você Barbara!
- Ao que se refere?
- Ao modo que sempre a tratei desde que a conheço.
- Confesso que nunca esperei ouvir isso, achava que para você eu era alguma terrorista ou Usurpadora!
- Na verdade, vou enxergá-la com outros olhos. Você jamais vai substituir minha mãe, mas tudo que tem feito por mim e pelo meu pai é digno de alguém que merece ser chamada de mãe.
- Minha intenção nunca foi substituí-la Vincent, mas me esforço todos os dias para chegar o mais perto possível dela. Fico muito feliz em saber que você me deu essa chance.
- Desculpe Barbara, você jamais chegará perto da minha mãe, assim como ela nunca chegará a se comparar a você. São coisas totalmente opostas, mas se não fosse você acho que passaria fome todos os dias de manhã, não por opção, e sim por obrigação. Entre tantas outras coisas que você faz.
- Então, agora somos amigos? – Perguntou ela sorrindo.
- Mais do que isso, somos exemplos de relações intraespecíficas positivas! – Respondi retribuindo o sorriso.
- Começou! Vamos comer logo antes que eu fique com dor de cabeça com essa sua língua totalmente desconhecida pela humanidade. – Encerrou Barbara pegando uma torrada junto com um pote de manteiga.
- Como todo prazer! – Terminei pegando uma panqueca e servindo suco de laranja em meu copo.
No fim daquele dia, Helena e eu fomos esvaziar nossos armários e pelo visto, éramos os últimos a recolher todos os livros de três anos de estudo.
- Enfim, acabou. – Disse a ela enquanto colocava meus livros dentro de uma caixa.
- Pois é esses três anos passaram como 3 segundos. – Respondeu Helena fazendo o mesmo.
- Não sei como você me agüentou durante três anos, confesse: eu nunca te enchi o saco? – Indaguei colocando meu último livro na caixa.
- Está brincando? Você me enchia o saco todo dia! – Exclamou Helena, colocando em uma nécessaire alguns cosméticos que guardava em seu armário quando uma foto caiu de dentro dele.
- E o que é isso? – Disse pegando a fotografia. – Não acredito! – Exclamei espantado com o que estava vendo.
- Hei! Quem disse que era para você ver isso?! – Respondeu Helena, vermelha de vergonha.
- A nossa primeira foto juntos e... Olha só, uma dedicatória no verso! – Virei a imagem e comecei a ler o que estava escrito: “As pessoas acreditam que vão viajar para o verão, mas você e eu vivemos e morremos. O mundo está girando e não sabemos por quê.”
Oasis, Champagne Supernova. Que por acaso, foi a música que mostrei a você no dia em que nos conhecemos.
- É sim, agora me dá isso aqui! – Disse Helena tomando a foto de minhas mãos.
- Eu não sabia que você guardava isso ainda. – Disse a ela encostando-me nos armários a observando.
- Tem muita coisa que você não sabe seu troca letras desgraçado! Mas, me diga, vai mesmo querer ser um jornalista? – Disfarçou Helena.
- Você não tinha uma desculpa melhor estilista de brechó? – Sorri.
- Desculpa para quê? – Disse Helena me encarando.
- Desculpa para disfarçar o que eu e você escondemos um do outro nesses três anos. – Fiquei de frente para ela me apoiando com um dos braços no armário a encostando no mesmo.
- E o que escondemos um do outro todo esse tempo? – Perguntou Helena olhando em meus olhos.
- O fato de que você é louca por mim e que sou apaixonado por você desde a primeira vez que a vi entrando na sala de aula e se sentando ao meu lado. – Correspondi ao seu olhar.
- E como se sente? – Perguntou mordendo seus lábios.
- Que já esperei demais para fazer isso. – Disse passando minha boca pelo seu rosto.
- Então faça. – E eu a beijei. Quando senti o toque de seus lábios pela primeira vez foi como se tudo ao meu redor tivesse deixado de existir. Tudo que eu podia ver era Helena. E naquele momento, havia encontrado algo no qual, valia à pena viver - Vincent. – Disse Helena parando o beijo e me encarando.
- Helena. – Respondi acariciando seu rosto.
- Eu te amo. – Isso soou como uma punhalada no coração, mas eu não sentia dor alguma.
- Eu também te amo. – Respondi a abraçando. – E aquela história sobre transar, foi pra valer? – Brinquei.
- Daqui a 2 anos quem sabe, seu safado! – Respondeu Helena me estapeando e rindo.
- A propósito, lembra que eu ia te contar sobre meu sonho?
- Lembro sim, me conte tudo! Em detalhes.
- Foi à coisa mais louca! Eu tinha acordado em uma cidade deserta, aí um ceifador veio atrás de mim e depois ele virou um cara com um terno preto muito estiloso e começou a me explicar tudo sobre o lugar e eu vi a minha mãe! A gente conversou muito sobre tudo, até falei de você para ela...
E desde então, se passaram 20 anos desde meu acidente. Me tornei um jornalista e Helena virou uma brilhante estilista com uma marca e várias coleções próprias! E também nos casamos. Barbara e eu nos tornamos ótimos amigos, aprendi a enxergá-la com outros olhos assim como nunca mais cheguei perto de qualquer droga. A não ser a tão tradicional Vodka, mas só uma vez por semana no fim de um expediente. Vivi muito bem até completar 37 anos quando descobri um tumor cerebral que me tirou a vida. E como já era certo, retornei para o Círculo Um, mas dessa vez para ficar. Onde fui recebido por Ícaro e minha mãe, já pronto para começar meu novo trabalho.
Foram anos e anos guardando o Círculo Um, vi toda minha família se reunir comigo, todos da forma em que desejavam estar. Helena estava como eu, Barbara e papai estavam mais velhos. E assim vivi minha eternidade até um dia quando surgiu um espírito diferente. Ele havia saído de dentro do hospital e estava com um ferimento em seu peito causado por uma bala vinda de uma arma de fogo. Estava prestes a atacá-lo transformado em Ceifador quando notei que ele portava um crucifixo diferente do meu. Então fui para trás de um carro, tomei minha forma humana e me sentei no capô do automóvel eobservando o rapaz.
- Você é novo por aqui e se saiu muito bem! – Exclamei olhando-o se levantar.
- Quem é você? Que lugar é esse? O que era aquilo? – Disse se levantando e me encarando.
- São muitas perguntas, mas explicam o porquê de você ser um jornalista! – Disse para ele rindo.
- Quer parar de rir de mim e responder o que perguntei? – Respondeu impaciente.
- Tudo em seu tempo jornalista! Meu nome é Vincent e este lugar bom, você que é um grande entendedor da literatura, podemos dizer que é como os Campos Elíseos da Divina Comédia de Dante Alighieri.
- Campos Elíseos? Aquilo queria me matar e você chama isso aqui de paraíso?! – Indagou assustado.
- Te matar? Você já está morto! – Parou por um instante, arregalou seus olhos e parece que dessa vez, a ficha acabara de cair.

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Afterlife - Parte 5


Por mais que eu pensasse o contrário, nada nunca foi tão real quanto aquele momento. Foi como receber uma bênção de uma divindade, iluminado pela aura do mais belo anjo; no instante em que ela entrara em meu quarto foi como de forma instantânea minha mente se esvaziasse de tudo que era bom ou ruim, cada centímetro do meu corpo estava voltado a ela. Olhei-a várias vezes de cima a baixo, mas não conseguia desviar de seus olhos, desvaneci em meio ao seu sorriso. Qualquer descrição para um momento simbólico e sagrado como este seria completamente irrelevante, pois qualquer palavra que ousasse sair da minha boca não seria suficiente para classificar o sentimento que tomara conta de mim naquele instante.
- Obrigado Ícaro, agora deixe-nos a sós, por favor . – Disse ela desviando seu olhar para Ícaro.
- Com sua licensa Diana. – Retribuiu Ícaro com um sorriso deixando o quarto e fechando a porta. - Meu filho... – Disse Diana voltando seu olhar novamente para mim.
- Por quê? Tanto tempo sozinho e a encontro pela primeira vez.... Aqui. – Com muita dificuldade dirigi estas palavras à minha mãe.
- Está tudo bem agora, estou aqui. – Aquilo soou para mim como um golpe de misericórdia, tudo que consegui fazer foi cair de joelhos perante sua presença e a abraçar. Senti percorrendo meu rosto lágrimas que formigavam minha pele e em resposta, ela abaixou-se limpando meu rosto e correspondeu ao meu abraço .
- Tudo que eu sempre quis, ninguém nunca pode me dar. Nunca precisei de ninguém em toda minha vida, por que isso agora? Não está certo, nada aqui faz o menor sentido! – Disse ainda abraçado com ela ao chão.
- Vincent, você está em outra vida agora. Tudo aqui tem um sentido e um ideal, você ainda está muito confuso, chegou a muito pouco tempo aqui. Mas logo entenderá. Agora deixe-me olhar para você, quero ver o meu filho de perto. – Disse minha mãe confortando-me segurando meu rosto e sorrindo para mim.
- Você... É tão linda. – Respondi, segurando uma de suas mãos, sentindo-a.
- Seus olhos, seu cabelo, se você não fosse um homem, acho que iriam achar que criei um clone meu dentro da minha barriga durante 9 meses. – Brincou.
- O papai sempre disse que Deus resolveu trocar você por mim e que para ele sofrer menos, me fez o mais parecido possível com você.
- Ah seu pai. Como sinto falta dele, mas sempre estou o vigiando. Fiquei muito feliz que ele tenha encontrado alguém para amar. Barbara é uma boa mulher, é muito bom vê-lo feliz com ela ao seu lado. Mas há alguém que parece não gostar muito dela, não é mocinho? – Disse minha mãe com um tom adversativo.
- Mãe, veja bem: Eu gosto dela e a respeito. Apenas não sou simpático! – Respondi envergonhado.
- Você tem um raciocínio bem rápido meu futuro jornalista, mas é péssimo em disfarçar seus sentimentos. – Retrucou de volta se levantando e se dirigindo à cama do quarto comigo.
- Admito que ela faz muitas coisas boas por mim e que faz o máximo que pode para compensar minha ausência materna, mas mãe, não é a mesma coisa! É como se ela tentasse ser você. – Sentei junto com minha mãe deitando-me sobre seu colo.
- Filho, ela jamais será sua mãe. Esta sou eu, mas você precisa dar uma chance a ela. Barbara não quer tomar o meu lugar e sim cuidar de você como eu cuidaria. – Parei por um instante sentindo meu cabelo sendo acariciado.
- Mas mãe, como eu posso enxergar você em uma pessoa que nem ao menos esteve presente em todos meus momentos?
- Eu posso ser a sua mãe biológica e estarei sempre aqui. Mas na Terra é ela que cuida e cria você Vincent. É isso que uma mãe faz com seus filhos não é?
- Sim...
- Pense nisso, você verá o quanto Barbara poderá ser boa para você assim como Helena que, diga-se de passagem, seria uma ótima namorada!
- Mãe! – Encarei-a ficando avermelhado de vergonha.
- O que foi? Você gosta dela não gosta? Não me esconda nada filho, uma mãe sabe de tudo!
- Somos apenas bons amigos mãe...
- Você diz isso por que nunca parou para olhar o jeito que ela o olha.
- Como sabe de tudo isso?
- Estou sempre olhando você e seu pai, ou acha que só por que estou aqui me esqueci dos meus homens em Terra?
- Saber disso me conforta demais, mas confesso que sobre Helena, bom é a única amiga que eu tenho e sou o único amigo que ela tem, então...
- Então, por que não tornar isso algo maior?
- Somos muito diferentes mãe! Ela quer ser estilista e gosta de muitas coisas que não me agradam.
- E você quer ser um jornalista que também gosta de muitas coisas que não agradam a ela, um perfeito encaixe não? E além do mais, vocês se dão muito bem Vincent! Não deixe isso escapar, não tenha medo de amar e ser feliz. Mas essa felicidade nunca virá se você continuar com certos vícios.
- Não mãe, não me diga que...
- Sim Vincent, eu vi você usando drogas. Filho porque sustentar isso?
- Elas me ajudam a esfriar a cabeça, meu dia-a-dia me força a usá-las!
- Quer esfriar a cabeça, tome um banho de água fria, usar drogas é o mesmo que se suicidar filho, por muito pouco você não foi parar no círculo 2.
- Se era lá que eu merecia estar, por que vim parar aqui então?
- Porque você não desencarnou devido às drogas filho, você não pediu para vir para cá do jeito que veio.
- Do mesmo jeito que não pedi para estar aqui mãe!
- Mas você está Vincent, você precisa aceitar isso.
- Eu tenho muitas coisas pendentes para fazer em Terra ainda!
- Pode fazer todas elas aqui meu filho.
- Não mãe, não escolhi estar aqui e preciso voltar, Barbara, Helena e o papai vão sentir minha falta. Como já devem estar sentindo.
- Vincent, você não sabe o que está dizendo, voltar apenas por eles não valerá a pena. Me escute!
- Não são só eles mãe, é a mim também. Posso não valorizar minha vida, mas tenho muitos planos e quero realizar todos!
- Se desapegue da matéria, no final de tudo você não levará nada de lá Vincent!
- Mãe tente me entender eu... Ah Maldição! – De repente meu ferimento começou a doer profundamente.
- É sua ferida não é? Deixe-me ver. – Disse retirando minha franja do meu ferimento analizando-a. Vincent, essa dor pode passar, é só você aceitar ficar aqui.
- Ela também pode passar quando eu retornar ao meu corpo. – Respondi com minha voz trêmula. – Não entendo, você me deu tantos conselhos para seguir na Terra e agora insiste tanto para que eu fique.
- Ainda me restava uma esperança de que eu conseguiria fazer você ficar Vincent.
- Mãe, mesmo que eu vá, eu voltarei um dia e dessa vez, para sempre.
- É isso mesmo o que quer?
- Sim.
- De todo seu coração?
- De toda minha alma que aqui se encontra.
- Não há alegria maior para uma mãe do que ver o seu filho realmente feliz. E neste momento, não há orgulho maior para mim do que saber que o meu próprio filho, já se tornou um homem. – Sorriu colocando uma das mãos sobre meu rosto e com seus olhos mareados.
- Eu te amo mãe. Me perdõe por todos os erros que cometi na Terra e pelos que ainda vou cometer.
- “Quando pensar que tentamos de tudo e até mesmo as possibilidades de fazer tudo certo, continuaremos a praticar os mesmos velhos erros. Fazendo tão inesperada e facilmente um equilíbrio de quando vivemos no limite de nossas vidas, faça uma oração no livro dos mortos.”
- Blood Brothers, Iron Maiden, eu adoro essa música.
- Sua mãe também era uma roqueira! E foi essa a música que escutei enquanto estava grávida de você Vincent. E a última que ouvi antes de morrer. – A abracei enquanto suas lágrimas molhavam meu ombro.
- Mãe, me explica por que o Céu é azul? – Sorri.
- Desculpe filho, não posso. Senão terei de lhe explicar a grande fúria do mundo também! – Respondeu rindo.
- Filho, gostaria de passar a eternidade com você, mas não agora. Eu tenho que ir, meu dever me chama.
- Não mãe espere! Ícaro me disse que você me diria o que eu teria que fazer para voltar para a Terra.
- Não Vincent, será ele mesmo que irá lhe dizer. Por mais que seja minha obrigação fazer isso, a responsabilidade é dele.
- Mãe... Quando a verei denovo?
- Só o destino dirá meu filho, mas lembre-se: Você nunca está sozinho. Quando quiser me ver, basta fechar seus olhos. Até breve, meu jornalista. – Ela abraçou-me, beijou minha testa e desapareceu.
Naquele momento um vazio imenso tomou conta de mim. Me sentei encostando-me na parede da janela olhando para o nada. Pensando em minhas próprias escolhas, mas tudo que podia sentir era uma dor, mais funda do que minha ferida. Uma chaga na qual só eu poderia erradicar de mim. Então fechei meus olhos procurando inutilmente segurar minhas lágrimas.
- Foi um momento surreal não? – Disse Ícaro surgindo ao meu lado encostando-se na parede.
- Só queria ficar por mais tempo, muito mais.
- Você escolheu isso e sabia das conseqüências, nada no universo é relativo. Ou é uma coisa ou outra, jamais as duas. É a única coisa que nem seu livre arbítrio é capaz de ultrapassar.
- Livre arbítrio, universo. Não estou nem aí para isso, só quero... Estar em seus braços mais uma vez.
- Ela estará em todos os lugares Vincent, nunca se sinta sozinho, jamais.
- Então por que me sinto tão solitário?
- Por que você faz da sua vida um poço de solidão. Com tão poucas pessoas fazendo tanto por você.
- Eu não sei de mais nada...
- Sabe sim Vincent e o que está esperando para receber esta segunda chance mais uma vez?
- Um milagre, quem sabe. – Desviei meu olhar para Ícaro.
- Sabe Vincent, milagre de verdade é alguém que não possui metade da vida que você tem e ainda acordar sorrindo todos os dias. É uma mãe encontrar seu filho em outra vida e restabelecer laços que a Terra rompeu. – Disse Ícaro sentando-se ao meu lado e olhando para mim.
- Posso mesmo fazer isso?
- Você deve.
- Obrigado Ícaro, de verdade. – Estendi minha mão cumprimentando-o.
- Não há de que jovem jornalista. – Respondeu retribuindo o gesto. – Mas agora vamos, você precisa voltar para a Terra antes que seja tarde.
- Sim. – Disse me levantando e puxando-o comigo.
- Mas antes eu gostaria de pedir uma coisa.
- O que?
- Posso ir ao banheiro?
- Está brincando não é? - Indagou Ícaro levantando uma sobrancelha.
- Estou sim, foi só para descontrair.
- Engraçadinho, vamos.
- Depois de você.
- Obrigado.

E naquele momento, um mundo novo iria surgir. Tudo seria diferente, uma vida nova está para recomeçar para mim, para todos.

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Afterlife - Parte 4


Depois de tudo que vi e escutei voltei para o meu quarto no hospital e dormi um pouco. No dia seguinte acordei com uma forte dor em meu ferimento, mas ignorando-a me levantei e fui em direção à janela do quarto para observar a cidade. Tudo aqui era tão calmo e tranquilo, realmente é o lugar perfeito para ficar por toda a eternidade, mas eu não a queria ainda; o meu lugar não é aqui agora. Porém, por mais que quisesse voltar, algo me fazia querer ficar no Zero. Não sei explicar o que é, me fazia sentir um conforto semelhante ao colo de uma mãe quando abraça seu filho, na paz de um amor materno. Mas eu precisava voltar, tinha que fazer o que nem ao menos tive chance de começar: a minha própria vida.

- Está pensando alto demais jornalista! - Disse Ícaro surgindo no quarto e encostando-se na porta.

- Nem depois de morto tenho privacidade? - Resmunguei encarando-o.

- Você irá se acostumar, mas diga-me, como foi sua primeira noite aqui?

- Ótima, a não ser pela dor de cabeça que está me matando!

- Te matando? Ora Vincent, já se esqueceu que ela já te matou? - Brincou Ícaro.

- Engraçadinho, mas falando nisso se estou morto, por que ainda sinto dores?

- Este é o motivo da minha visita.

- Sou todo ouvidos.

- Pois bem, trago notícias que vão lhe interessar muito. Notícias vindas diretamente da Terra, Vincent.

- Da Terra?! - Exclamei.

- Sim, e ela explica o porquê de você ainda sentir tantas dores.

- E qual é essa notícia?

- Vincent, seu corpo não morreu. - Parei por um instante e me aproximei de Ícaro.

- Como assim não morreu?

- No momento do acidente, você desencarnou. Mas como seu corpo não havia morrido, seu espírito ainda está ligado a ele. Por isso você despertou no hospital, para se recuperar junto com seu corpo, que aliás, também está em um hospital na Terra.

- Deixe-me ver se entendi: meu corpo está em um hospital se recuperando, eu que me encontro no estado espiritual aqui estou fazendo a mesma coisa e como meu corpo ainda está ferido na cabeça, sinto as suas dores, certo?

- Perfeitamente.

- Mas como meu corpo ainda está vivo, se estou há um dia inteiro aqui?

- Porque o tempo na Terra é mais lento do que aqui Vincent. Uma hora no plano físico corresponde a um dia aqui.

- Então, isso aumenta minhas chances de voltar!

- Tecnicamente sim, mas como eu disse, nada se consegue sem sacrifício e merecimento Vincent.

- Certo Ícaro, e eu lhe pergunto mais uma vez, o que tenho que fazer?

- Não serei eu que dirá isso a você. E sim a pessoa que me mandou dizer esta notícia e quer muito vê-lo agora.

- E quem seria essa pessoa? - Após minha pergunta, Ícaro se desencostou da porta e a abriu mostrando uma mulher com olhos iguais aos meus, mesma cor capilar e com cerca de 30 anos usando um vestido branco.

- Você cresceu. E está divinamente lindo... Meu filho.

E mais uma vez, o tempo acabava de parar para mim.

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Afterlife - Parte 3

Eu estava morto, era um fato que eu deveria aceitar. Mas cada vestígio mental que ainda me restava simplesmente se recusava a acreditar nisso. Imediatamente após as palavras de Ícaro, as imagens do acidente que me tirou a vida passaram pelos meus olhos. Dei alguns passos em direção a um carro e olhei meu reflexo pelo vidro dianteiro onde notei que eu possuía um profundo corte na minha testa. Passei uma das mãos pelo ferimento e senti uma aguda dor.

- Tudo está claro agora não é? – Disse Ícaro se aproximando de mim e ficando ao meu lado.

- Foi tudo tão... Rápido. – Respondi, encarando meu próprio reflexo. – Eu não posso estar morto, só tenho 17 anos! Como isso pôde acontecer?!

- Você poderia ter até mesmo 50 anos, quando à sua hora chega, nada impede as coisas de acontecerem Vincent. – Explicou Ícaro.

- Que lugar é esse? – Indaguei desviando meu olhar para Ícaro.

- Como eu disse, estamos em uma dimensão que se assemelha aos Campos Elíseos, chamada de Zero. Aqui é o lugar para onde vão aqueles que foram mortos em acidentes, você teve muita sorte de vir parar aqui. Venha, vou lhe explicar. – Ícaro pôs uma das mãos em um dos meus ombros e começamos a andar pela cidade.

- Eu poderia ter ido parar em um lugar, pior? – Indaguei.

- Zero é o primeiro dos cinco vales por onde os mortos podem ir, o que define para onde eles vão são suas ações na Terra. E são eles Zero, Um, Dois, Três, Quatro e Cinco. O vale Um é para onde vão os suicidas, Dois os viciados, Três os corruptos, Quatro os assassinos e Cinco o último e pior de todos, é para onde vão os estupradores e pedófilos. Estive observando você alguns meses antes de sua morte e você era um cara bem perturbado Vincent. Confesso que me impressionei devido ao vale que você veio parar e no lugar onde você parou nele. Eu estava certo de que você iria para o vale Um ou Dois.

- Um ou Dois? Não entendo, eu nunca tentei suicídio em toda minha vida! E também não tenho nenhum vício. – Exclamei.

- Nunca tentou se matar porque você já estava morto Vincent, morto por dentro. A única coisa que mantinha sua alma na Terra era o seu corpo, coisa que você não andava cuidando muito bem. Ou por acaso já se esqueceu do álcool e das drogas, isso é considerado suicídio, uma lenta e dolorosa morte. – Continuou Ícaro com sua explicação.

- Certo, se meu propósito em Terra terminou, qual é o meu aqui? – Indaguei.

- Isso é algo que terá de descobrir sozinho jovem jornalista. Sem mais perguntas, agora preciso ir. – Disse Ícaro afastando-se de mim.

- Ícaro espere! Eu não posso ficar aqui, tenho muitas coisas ainda para fazer em Terra e Barbara e Helena sentirão minha falta. Não há um jeito de voltar?

- Ora Vincent, para que voltar? Olhe a sua volta, todos que estão aqui são privilegiados. Está vendo este Sol que nos ilumina? Ele é o sinal de toda a esperança e prosperidade deste lugar. – Encerrou Ícaro.

- Então há como voltar. – Concluí.

- Eu não disse isso.

- Mas quis dizer, eu posso ser um privilegiado, mas não escolhi estar aqui. E pelo que sei, nem mesmo a vontade do destino pode intervir em meu livre arbítrio.

- Perfeitamente. Entretanto, você também não escolheu ser atropelado e isto não depende da sua vontade.

- Correção: a vontade dos outros não corresponde a mim. Lembro muito bem que o farol estava vermelho para o trânsito no momento do acidente, portanto não foi um erro meu.

- Tudo que fizer em Terra irá influenciar em todos à sua volta. Assim como o motorista que o atropelou. Ele escolheu infringir as leis de trânsito e como consequência, você veio parar aqui.

- Por isso mesmo, das coisas que fiz em Terra, não era para eu estar aqui.

- Claro que não, era para estar em outro vale. Se quiser pode ir para algum deles, mas garanto-lhe que não são como o Zero.

- Eu não estou dizendo que quero ir para outro vale. E sim que quero voltar para Terra.

- O vale Zero, possui este nome porque é onde aqueles que foram bons no plano físico, podem recomeçar, mas aqui.

- Eu quero voltar.

- Persistente, curioso, inteligente. Um perfeito jornalista; você seria brilhante em sua profissão garoto. Pois bem, é isso mesmo o que quer? – Indagou de forma intrigada Ícaro.

- Sim.

- Mas terá um preço.

- E qual é?

- Nada se consegue sem merecimento e sacrifício Vincent. Até lá, o quarto onde despertou será sua casa. Em breve nos veremos de novo.

- Isto aqui por acaso é o Céu? – Perguntei.

- Não existem Céu e Inferno garoto, e sim a eternidade. – Respondeu Ícaro desaparecendo.

Enquanto retornava ao hospital fui refletindo sobre tudo que Ícaro havia me dito, no fundo, eu queria voltar, eu precisava. Mas se estou aqui não é por acaso. Chegando ao hospital, me sentei em um degrau da escada na entrada principal. Retirei o bilhete do meu bolso e o encarei por um instante quando de repente, várias pessoas começaram a transitar pelas ruas. O Sol estava mais radiante do que nunca e pela primeira vez, eu não estava sozinho.

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Afterlife - Parte 2


E lá estava eu, não tinha a menor idéia de onde me encontrava, mas, lentamente fui recuperando minha consciência e notei que estava deitado em uma cama que se assemelhava muito com um leito hospitalar iluminado por uma pouca luz solar incidida pela janela que estava de cortinas fechadas. Me sentei na cama e comecei a olhar para os lados, parecia não haver ninguém por perto, então avistei em uma cômoda logo a minha frente um crucifixo de prata, junto de um bilhete com meu nome escrito. Então me levantei e com certa dificuldade fui até o móvel pegar o bilhete, o abri e nele havia a seguinte mensagem:

“Em breve nos veremos, até lá, isto lhe será muito útil. – Diana”

Após ler o que estava escrito tomei em mãos o crucifixo e o encarei por alguns segundos. Enquanto tentava entender o que estava acontecendo, tudo estaria perfeitamente normal a não ser pelo fato de que Diana fosse minha mãe que havia morrido após meu nascimento. As coisas estavam muito confusas e eu precisava sair daqui então coloquei o crucifixo em meu pescoço guardei o bilhete em meu bolso e saí da sala onde eu estava me deparando com um imenso corredor, que assim como o quarto, era muito parecido com o de um hospital. Então olhei para os lados e vi uma porta no fim de um corredor parecendo que seria uma saída, corri até ela e abrí-a com violência mostrando uma cidade devastada, era como se houvesse tido uma guerra onde não houvessem sobreviventes. Saí andando pelas ruas a procura de alguém para me ajudar. Comecei a gritar perguntando sem sucesso se havia alguém por aqui, então me sentei em um banco na calçada quando comecei a ouvir um som muito estranho do qual não havia a menor idéia do que poderia ser.E então notei que uma sombra havia coberto o meu corpo e quando olhei para trás havia uma criatura prestes a me dilacerar com uma foice, então em um súbito reflexo, me joguei no chão escapando de seu ataque. Me levantei depressa e comecei a correr como nunca havia corrido antes quando fui surpreendido pela criatura que surgiu na minha frente, caí para trás e comecei a me rastejar para longe da criatura quando ela chegou a centímetros de mim, observou que eu possuía um crucifixo e imediatamente cessou seu ataque e desapareceu do mesmo jeito que surgiu.

- Você é novo por aqui, se saiu muito bem Vincent! – Exclamou um homem que estava sentado no capô de um carro e aparentava ter no máximo 30 anos de idade de cabelos pretos e curtos que usava um chapéu e terno pretos.

- Quem é você? Como sabe meu nome? Que lugar é esse? O que era aquilo? – Disse me levantando e o encarando.

- São muitas perguntas Vincent, mas elas explicam o porquê de você querer se tornar um jornalista. – Disse o homem rindo de mim.

- Quer parar de rir de mim e responder o que perguntei? – Respondi perdendo minha paciência.

- Tudo em seu tempo jovem jornalista, meu nome é Ícaro, esse lugar, bom, você que conhece bem a literatura, podemos dizer que é como os Campos Elíseos.

- Campos Elíseos?! Aquilo queria me matar e você chama isso aqui de paraíso? – Indaguei a Ícaro.

- Te matar? Vincent, você já está morto! – Parei por um instante, arregalei meus olhos e dessa vez, a ficha acabara de cair.

domingo, 14 de novembro de 2010

Afterlife - Parte 1


Acordar de um sonho nem sempre é ruim, mas ultimamente eu não estava com muito saco para isso. Em uma vida de estudante de colegial não há tempo nem ao menos para dormir quanto mais sonhar e quando menos percebi, já eram 8 da manhã do dia 8 de agosto de 2008 e mais uma vez lá estava eu indo para mais um dia da minha cansativa e estressante rotina de todos os dias. Levantei da cama e me dirigi até o banheiro onde tirava meu pijama enquanto entrava dentro do Box. Ligava o chuveiro para um breve banho matinal enquanto tentava ocupar meus pensamentos com alguma coisa, mas, as únicas palavras que surgiam em minha mente eram “que inferno”. Após sair do banho, vesti minhas tradicionais calças e sapatos pretos junto com uma camisa xadrez vermelha, apanhei minha mochila junto com meu aparelho de mp3 e desci para ir para mais um dia de escola.

- Não vai tomar café Vincent? – Disse Barbara, minha madrasta.

- Não, estou atrasado para a aula, até mais tarde. – Respondi saindo de casa.

Durante o caminho coloquei os fones do meu mp3 em meus ouvidos e procurei uma música para ouvir, escolhi “Bat Country” da banda Avenged Sevenfold era a primeira música que eu escutava todos os dias durante a minha ida à escola. Eu observava todos os outros alunos indo com seus carros importados pelas ruas, todos eles sem qualquer idéia de quem eram ou o que queriam fazer de suas vidas, eram apenas pirralhos de 17 anos de idade com um pensamento medíocre e vazio movido a estrógeno e testosterona. Eu não precisava de nada disso, era meu último ano e eu não via a hora de tudo acabar e não ver mais nada disso, erradicar tudo da minha rotina, mudar tudo de uma vez por todas, a música já estava no fim e eu já havia chegado ao meu destino.

- Você chegando antes do sinal bater, que milagre! – Disse Helena, minha única amiga na escola me encontrando na escadaria da porta principal do colégio.

- Eu não tive uma boa noite de sono, então saí da cama em vez de ficar perdendo tempo.- Respondi com um sorriso amarelado.

- Você nunca cansa da mesma desculpa? – Indagou Helena entrando comigo.

- É que eu tenho preguiça de arranjar outra. – Fitei-a.

- Você nunca vai mudar. – Me respondeu jogando o mesmo olhar.

- Está bem, chega disso, vamos logo para a aula. - Encerrei a conversa enquanto entrava na sala de aula com Helena.Passaram-se uma, duas, três horas até que o último sinal tocou e então saí da sala e me dirigi até a saída, tudo estava indo bem até quando fui atravessar a rua e tudo que eu lembrava era de um carro vindo em minha direção e de Helena em desespero correndo até mim.



Brincando de Escritor

Bom, eu não gosto muito de contos, mas confesso que toda vez que leio um, seja de um livro, uma crônica ou as famosas "fanfics" sempre fico inspirado para criar minhas próprias histórias. Então, aproveitei meu espaço já ocupado pelo Desarmando Bombas Atômicas, meu outro blog sobre o cotidiano, para criar o Shakespeare no Divã. Mas calma, não quero deixar ninguém louco aqui, apenas entretê-los. Se vou conseguir, eu não sei, é um mistério...